O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirmou nesta terça-feira, em conversa com a imprensa, após cerimônia de assinatura do projeto de lei anticrime que caixa 2 “não é corrupção”. A frase, no entanto, contraria declaração dada por ele quando ainda era juiz federal e atuava no julgamento dos casos da Lava-Jato. Na época, ele fez uma defesa enfática da criminalização da prática, tratada como “trapaça” em palestra na Brasil Conference de Harvard, nos EUA, em 8 de abril de 2017.
Ainda de acordo com Moro, em pensamento desenvolvido na palestra em 2017, caixa 2 seria ainda mais grave que o recebimento de propina, já que teria impacto direto nas campanhas eleitorais.
“Para mim, a corrupção para financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito. Se eu peguei essa propina e coloquei em uma conta na Suiça, isso é um crime, mas esse dinheiro está lá, não está mais fazendo mal a ninguém naquele momento. Agora, se eu utilizo para ganhar uma eleição, para trapacear uma eleição, isso para mim é terrível”, analisou.
Menos de dois anos depois, no começo da tarde desta terça-feira, o ministro da Justiça voltou a tratar do assunto, porém, sem considerar tão grave a situação. “Caixa 2 não é corrupção. Existe o crime de corrupção e o crime de caixa 2. Os dois crimes são graves”, disse.
Moro disse que acabou considerando a reclamação dos parlamentares ao rever a posição.
“Houve reclamações por parte de agentes políticos de que o caixa 2 é um crime grave, mas não tem a mesma gravidade de corrupção, crime organizado e crimes violentos. Então, nós acabamos optando por colocar a criminalização num projeto à parte, mas que está sendo encaminhado neste momento. Foi o governo ouvindo as reclamações razoáveis dos parlamentares quanto a esse ponto e simplesmente adotando uma estratégia diferente. Mas os projetos serão apresentados ao mesmo tempo”, comentou o ministro.
O projeto foi entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo maia (DEM-RJ), na tarde de hoje.