A entourage de Jair Bolsonaro chegou ao Congresso pontualmente às 9h30. Em menos de dois minutos, a passos rápidos e cercado por segurança, ele avançou até o Salão Verde e se acomodou na sala principal da presidência da Câmara dos Deputados. Ali, naquela Casa, o projeto de reforma da Previdência passará os próximos cinco meses, segundo a previsão mais otimista do governo federal, para depois ser enviado ao Senado, de onde deve sair como lei até o fim do ano, a partir dos prazos regimentais e dos embates políticos.
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Ainda no Congresso, Bolsonaro disse que errou ao ter se posicionado contra a reforma da Previdência quando era deputado. “Nós temos que, juntos, realmente mostrar, não só para o mundo, mas para nós mesmos, que erramos no passado. Eu errei no passado, e temos oportunidade ímpar de garantir para as futuras gerações uma Previdência onde todos possam receber.” Porém, o sucesso na aprovação da reforma passa, necessariamente, por uma eficaz articulação política que o governo ainda não tem. Deputados aliados, que se dizem dispostos a apoiar a agenda governista, se dizem frustrados com o encaminhamento da interlocução capitaneada pela Casa Civil em conjunto com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo.
O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), líder do partido na Câmara, admite que a articulação governista precisa melhorar. “Mas é uma questão de aprendizado e tenho certeza de que o governo vai conseguir lidar com isso”, avaliou. O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), líder da legenda na Câmara, reconhece que a articulação ainda é incipiente, mas pondera que, agora, com a reforma na Câmara, é que se começa a formar a base. Mas alerta para as dificuldades de construir o apoio.
Nem mesmo a bancada do PSL está satisfeita como a forma como os diálogos vêm sendo tocados no Parlamento. Na tentativa de reverter a frustração dos parlamentares, Bolsonaro recepcionou ontem deputados e senadores do partido. Chamar para si a articulação é a melhor decisão que o presidente poderia adotar, mas o encontro, a portas fechadas no Palácio do Planalto, não convenceu. “Foi uma conversa que saiu do nada para chegar a lugar nenhum. O presidente nos chamou para dizer que ‘estamos juntos’ e ‘vamos mudar o Brasil’. Mas nada que tenha convencido a bancada a se sentir pertencente à base do governo”, criticou um correligionário.
Prazo
A primeira tarefa para o governo é a escolha dos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde oficialmente começa a tramitação da reforma da Previdência. Maia definiu que instalará a comissão na próxima terça-feira.
A expectativa das lideranças é negociar a composição com os nomes dos representantes das comissões, deixando a confirmação das presidências para depois do carnaval. Os deputados do PSL, entretanto, vão cobrar uma decisão urgente. “Temos de começar os trabalhos o quanto antes”, ponderou a deputada Bia Kicis (PSL-DF), uma das cotadas para assumir a presidência da CCJ..