Nascidos de um movimento político de ocupação das ruas da cidade, alguns dos maiores blocos de rua de Belo Horizonte preparam desfiles que contestam posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e prometem ir para a avenida para deixar seu recado contra o atual governo. Apesar do momento sensível na política, que deixou o país dividido entre apoiadores e críticos de Bolsonaro, eles reforçam que a festa é democrática e participa quem quer, independentemente de partido.
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Policias prometem acampar na porta da casa de Zema e não descartam paralisação no carnavalMapa dos blocos do carnaval de BH 2019: datas, horários e locais da foliaBanda Mole leva multidão à Avenida Afonso Pena no pré-carnaval de BHMamá na Vaca agita sábado de pré-carnaval em BH“Somos a favor das mulheres, contra o racismo, tudo pautado na ideia de que gente é pra brilhar. Vamos fazer vários posicionamentos, porque acreditamos sim, no carnaval político e que, através da alegria, conseguimos lutar contra as opressões”, diz a cantora do Brilha Michelle Andreazzi. Não está no roteiro puxar um “Ele, não”. “Mas, se acontecer, não temos receio. Vivemos numa democracia e todos têm liberdade de expressão”.
Todos são bem-vindos no bloco.
Um dos maiores blocos do carnaval de BH, o Chama o Síndico mudou de horário, dia e endereço e este ano sai no domingo pela manhã, em frente ao estádio Mineirão, na Pampulha. O que não muda é a defesa de um carnaval “de luta e reflexão”. Sem partido, mas com tom político, este ano o Síndico leva pra avenida o tema “A incrível história de um país tropical”.
“Estamos contra esse projeto político do governo atual, contra esse mar de lama que se instaurou no Brasil, que não respeita a soberania popular, a pluralidade e a diversidade”, afirma um dos fundadores do grupo, o percussionista Paulo “PG” Rocha.
Segundo ele, a rua é pública e a festa do povo. “Mas, se quem votou no Bolsonaro for, pode se sentir incomodado porque vamos deixar o nosso recado mais claro ainda a favor das chamadas minorias, que, na verdade, são maioria, quilombolas, LGBT%2b e as mulheres”, diz. “Somos contra o conservadorismo, contra quem acha que ambientalistas são ecochatos e que família é só heterossexual”, cita.
O bloco Juventude Bronzeada, que desfila na terça-feira de carnaval, publicou uma nota em sua página do Facebook com o posicionamento político do grupo. “Gostamos sempre de reafirmar que nos posicionamos abertamente contra o atual governo.
O cortejo será também uma contestação ao atual governo. “Festejamos juntos com a consciência de que carnaval e política podem e devem se cruzar, por isso, durante o cortejo convocamos todos para que gritemos contra o fascismo, contra o extremo conservadorismo, contra o machismo, racismo, sexismo, LGBTfobia e a favor da democracia sempre!”, aponta.
REPÚDIO, COM RESPEITO
Regente do Garotas Solteiras e Alô Abacaxi, blocos LGBT, Jhonatan Melo reforça que os dois grupos não têm qualquer problema de assumir o repúdio ao governo Bolsonaro. “Ele representa tudo que a gente teme”, diz. “O que a gente está discutindo não é a opção político-partidária, o discurso evoluiu, tem a ver com a pauta humana do carnaval. Não queremos deixar de ir pra rua por medo de violência, queremos respeito e não vamos tolerar o discurso de ódio”, afirma. “As pessoas que votaram em Bolsonaro são bem-vindas, desde que respeitem o espaço das outras pessoas”, diz.
“A gente é contra o Bolsonaro, mas democracia é isso, saber dialogar com o diferente. Seja de direita ou de esquerda, desde que a pessoa não seja violenta, não vejo problema de participar. O diálogo também se dá através da música”, afirma o mestre de bateria Unidos do Samba Queixinho, Gustavo Caetano.