O advogado criminalista Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defende Adélio Bispo de Oliveira, agressor do presidente Jair Bolsonaro, negou nesta sexta-feira, em entrevista ao Estado de Minas, que tenha recebido dinheiro de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do país, como pagamento seus honorários.
A Polícia Federal apresentou a Bolsonaro áudios que mostram o possível interesse da facção no atentado contra ele durante ato de campanha em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 6 de setembro. A informação foi classificada por Zanone como “delírio do povo”. “Claro que não pagou”, rebateu o defensor ao ser questionado se recebeu honorários do PCC.
Ainda nesta sexta-feira, a Justiça Federal acatou pedido de liminar da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais (OAB-MG) e anulou a operação da PF contra Zanone, feita em 21 de dezembro, quando o advogado foi alvo de busca e apreensão. O objetivo da busca era descobrir quem pagou os horários para que defendesse o esfaqueador de Bolsonaro.
A decisão é do desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), em Brasília.
Foram apreendidos um telefone celular do advogado e um HD com imagens de câmeras de segurança do prédio, além de livros-caixa, recibos e comprovantes de pagamentos de honorários do advogado. Questionado sobre a anulação da operação pela Justiça Federal, Zanonea foi lacônico: “já era esperado”, disse.
As conversas relacionadas ao PCC foram captadas pelo setor de inteligência e sustentam uma das linhas de investigação de inquérito que apura se Adélio Bispo agiu a mando de alguém. O fato foi divulgado pelo próprio Bolsonaro, durante café da manhã com jornalistas, na quinta-feira, quando ele relatou ter ouvido os áudios.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o presidente teve acesso ao material da PF em encontro no Palácio do Planalto, segunda-feira passada, e estavam presentes o delegado federal responsável pelo caso, Rodrigo Morais, o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o superintendente da PF em Minas Gerais, delegado Cairo Costa Duarte.
A publicação também revelou que, atualmente, o inquérito sobre o atentado está na fase final e a principal linha de investigação tenta esclarecer se o PCC teve participação no ataque. Um dos focos é saber se a facção criminosa financiou a defesa de Adélio no caso, divulgou.
'DESCONHECIDO'
Em 6 de dezembro passado, também em entrevista ao EM, Zanone Oliveira Júnior revelou que apresentou o valor de R$ 300 mil para defesa de Adélio Bispo até a fase final do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Também no inicio de dezembro, reportagem publicada pela revista Veja revelou que em depoimento sigiloso à PF, o advogado do agressor contou detalhes de como foi contratado para defender o esfaqueador de Bolsonaro.
Segundo a revista, ele disse ter sido contratado por “um desconhecido”, com o qual se reuniu em seu escritório em Belo Horizonte na manhã de 7 de setembro, e que, na ocasião, o advogado disse que cobrava, em média, R$ 50 mil em honorários. No entanto, ainda segundo a Veja, o “contratante” achou o valor alto.
“O criminalista, então, topou dar um desconto e receber R$ 25 mil até a conclusão da investigação da Polícia Federal. “Aquela pessoa aceitou a proposta e pagou inicialmente R$ 5 mil em dinheiro”, disse Zanone. O restante seria pago em outras parcelas mensais. No entanto, o interessado em ajudar Adélio “desapareceu”, relatou a reportagem de Veja.