O presidente Jair Bolsonaro inseriu o governo no centro de uma crise que pode até atrapalhar a articulação política pela aprovação da reforma da Previdência. A publicação do chefe do Palácio do Planalto de um vídeo obsceno em uma rede social gerou mal-estar entre líderes dispostos a compor a base aliada. O sentimento de alguns é de que o capital político do pesselista, que vem se reduzindo. Na prática, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) encaminhada pelo governo pode ser aprovada no Congresso. O risco de Bolsonaro se enfraquecer, entretanto, dificulta a possibilidade de passar uma reforma nos moldes pretendidos pelo Planalto.
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Planalto diz que Bolsonaro não pretendia criticar carnaval ao compartilhar vídeoMourão evita comentar vídeo pornográfico: 'Não sou ventríloquo do presidente'Bolsonaro questiona carnaval e publica vídeo obsceno em rede socialPaís entrará numa nova Previdência que atingirá os militares, diz BolsonaroApós críticas a Bolsonaro por tuíte, aliados gravam vídeos defendendo presidente Aliados não veem desgaste após publicação de vídeo obsceno por BolsonaroO controverso vídeo publicado por Bolsonaro repercutiu mal.
A avaliação central dos líderes é de que Bolsonaro precisa construir uma comunicação de Estado, e não dividir o país. “O presidente parece que ainda está em campanha, o que não é adequado. É preciso colocar a Previdência como prioridade, e não desviar o foco entre conservadores e progressistas”, analisou o deputado Daniel Coelho (PPS-PE), líder do partido na Câmara. O deputado Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA), líder da legenda, endossa o coro.
A polêmica não contamina a equipe econômica de Bolsonaro, mas redobrará o trabalho do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na última semana, os líderes pediram que o presidente seja o “garoto propaganda” da reforma da Previdência. Depois da controvérsia, a avaliação da base aliada é de que caberá ao núcleo econômico convencer a sociedade. “Bolsonaro está em desprestígio não apenas com os parlamentares, mas também com os governadores”, afirmou um líder.
Defesa
Entre aliados, a avaliação é de que o Planalto será “governado” pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. O ministro, responsável pela gestão de crise do governo, se reuniu ontem com Bolsonaro. Para congressistas, será ele o responsável por aconselhar o presidente e resgatar o prestígio com o Parlamento. O Planalto saiu em defesa do presidente. Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência acusa o vídeo publicado por Bolsonaro de crime contra os “valores familiares e as tradições culturais do carnaval”.
A ideia de Bolsonaro em publicar o vídeo foi se passar por um “homem do povo” com a mesma opinião do “grande eleitorado”, aponta um interlocutor. Algo próximo ao que os ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor faziam. Marqueteiros e consultores políticos ouvidos pelo Correio alertam, contudo, para uma estratégia arriscada do capitão reformado. “É como se ele não tivesse tirado a camisa de candidato”, considera Carlos André Machado, diretor do Instituto Opinião Política, que faz pesquisas eleitorais e de avaliação de governos.
Por mais cedo que possa ser para avaliar ou mesmo identificar a estratégia de Bolsonaro, as ações são feitas a partir de monitoramento de redes sociais, que tem limites para análise de impacto e plano mais efetivo dos movimentos do presidente. Para Machado, por mais que Bolsonaro esteja incomodado com as críticas de foliões, o foco agora é a reforma da Previdência. “Assim, o tempo é que vai dizer como o governo vai se movimentar para mostrar estratégia”, ponderou.
Como no período eleitoral, Bolsonaro fala para o próprio grupo de apoiadores, que o defende no mundo digital, mas não amplia tal rede de proteção. Isso complica quando a reação parece vir de reações emocionais por causa de críticas. Especialista em campanha digital e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), Marcelo Vitorino diz que ainda é cedo para maiores julgamentos e até mesmo para prever como o governo sobreviverá a crises, mas não há dúvidas de que o que está em jogo é a credibilidade. “Não creio que tudo seja uma estratégia para algo. Há nas mensagens componentes de livre manifestação.