A orientação da Polícia Militar para que blocos de carnaval não se manifestassem politicamente durante os desfiles foi alvo de críticas de deputados na tarde desta quinta-feira (7) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Alguns parlamentares cobraram que o posicionamento dos militares seja apurado, para esclarecer se houve uma orientação do comando com objetivo de censurar as manifestações durante os desfiles dos blocos. “Essa foi uma atitude isolada ou um procedimento institucional? Porque, se foi institucional, nós teremos que debatê-lo”, questionou o deputado André Quintão (PT).
“Seja no carnaval, em jogos de futebol, ou qualquer aglomeração de pessoas, todos têm liberdade de expressar suas opiniões. Os blocos de BH têm como marca de surgimento uma característica contestatória sobre o fechamento das ruas, um discurso pela cidadania em BH”, disse o petista.
Na sexta-feira (1), os organizadores do Tchanzinho Zona Norte reclamaram que o bloco foi censurado pela PM após o vocalista entoar canto crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). Eles afirmaram que os militares ameaçaram deixar o local caso o bloco não parasse com manifestações políticas.
No dia seguinte, o porta-voz da PM, major Flávio Santiago disse que manifestações político-partidárias e com cunho depreciativo podem gerar problemas no controle de grandes multidões.
O deputado Guilherme da Cunha (Novo), vice-líder de governo na Assembleia, pediu apuração sobre os acontecimentos da sexta-feira e defendeu o respeito à liberdade de expressão.
“Ideias e discursos devem ser combatidos por ideias e discursos, jamais pelo uso da força. Na sexta-feira passada infelizmente tivemos notícia de um caso que pode ter havido repressão de ideias e discurso. Foi reportado que o comando da PM no local em que desfilava o bloco teria impedido que seus organizadores proferissem livremente suas ideias”, criticou o parlamentar. Ele ressaltou que poderia discordar de tudo que foi dito pelos foliões, mas que defende o direito de expressarem seus pensamentos.
Cunha ressaltou que pode discordar de todas as manifestações feitas no bloco, mas que defende o direito dos foliões se expressarem livremente. Ele apresentou requerimento pedindo explicações sobre as medidas tomadas pelo comando da PM.
“Vamos tentar sair desse episódio com mais tolerância e respeito pela liberdade de expressão. Estamos em Minas Gerais, somos livres e a liberdade não pode ser apenas uma palavra em nossa bandeira”, disse.
Para o deputado Bruno Engler (PSL), no entanto, não houve censura aos manifestantes, uma vez que a PM estava preocupada com a segurança do evento.
“A questão ali não foi de liberdade de expressão, mas de segurança pública. A PM faz controle de massa e viu ali milhares de pessoas com credos diferentes, pessoas que já estavam bebendo, outras até utilizando outras drogas e o discurso político poderia gerar violência. Todos têm direito de falar mal do governo, mas a PM faz um trabalho preventivo, de evitar a confusão. É complicado vir aqui e descer a lenha no policial”, rebateu Engler.
Outros deputados destacaram a redução no número de crimes durante os dias de festa e parabenizaram a polícia mineira pela atuação no combate à violência no carnaval. “Temos que enaltecer o serviço muito bem executado pela gloriosa Polícia Militar de Minas Gerais, que deu um show mais uma vez”, disse o deputado Coronel Henrique (PSL).
A maioria dos blocos que desfilaram pelas ruas da capital mineira adotou tom político de críticas ao governo Bolsonaro e a seus filhos e ministros.