Depois de movimentos arriscados e de declarações polêmicas nas últimas 72 horas, o presidente Jair Bolsonaro convocou dois generais — o porta-voz Otávio Rêgo Barros e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno — para uma transmissão ao vivo nas redes sociais.
A tentativa era reduzir danos. A estratégia foi a solução encontrada pelos conselheiros militares para sustentar a credibilidade do governo, que recebeu críticas dos próprios aliados depois da publicação de um vídeo obsceno feita na conta pessoal do capitão reformado no Twitter na terça-feira. Uma declaração dada de Bolsonaro na manhã de ontem — de que só “existem democracia e liberdade quando as Forças Armadas assim o querem” — levou o Palácio do Planalto à certeza em optar por uma ação rápida no início da noite de ontem.
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Governo Bolsonaro renova contrato com agências de mídias digitais'A democracia é garantida pelo povo', diz Marco Aurélio sobre fala de BolsonaroBolsonaro anuncia lives no Facebook todas as quintas-feiras, às 18h30Bolsonaro conta com apoio de militares para aprovar reforma da PrevidênciaO Planalto não esperava uma reação negativa sobre a frase do presidente. Sem fazer referência à publicação polêmica no Twitter, ele começou se defendendo, dizendo que governará ao lado das “pessoas de bem”. “Daquelas que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade”, declarou.
A frase endossou a nota oficial publicada pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência, de que o vídeo é um crime contra os “valores familiares e as tradições culturais do carnaval”.
A declaração controversa dita na cerimônia veio depois, quando Bolsonaro finalizou o discurso: “(Só existem) democracia e liberdade quando as Forças Armadas assim o querem”, afirmou. Por causa do teor, a frase se transformou, em poucos minutos, em um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, inclusive por oposicionistas e governistas.
O pronunciamento de Bolsonaro ecoou rápido no Planalto. A expectativa era de que, depois da publicação do vídeo obsceno no Twitter — que acabou tendo uma repercussão internacional e levantou críticas até de aliados —, Bolsonaro deixasse de lado qualquer chance de estimular uma nova controvérsia.
Assim, por mais que não admitissem, integrantes do Planalto se apressaram para explicar a frase. Foi o caso do vice-presidente Hamilton Mourão, que minimizou a fala como um “mal-entendido” e negou que o contexto seja ameaçador.
Os regimes cubano e venezuelano foram usados por Heleno como exemplos de quando as Forças Armadas não querem liberdade e democracia. “Por que (Nicolás) Maduro é mantido (na Venezuela)? Porque as Forças Armadas estão segurando o presidente já praticamente deposto. Por que Fidel Castro durou o tempo que durou? Porque as Forças Armadas mantiveram a ditadura cubana. De acordo com a determinação das Forças Armadas, isso acaba sendo fator fundamental do regime político do país”, justificou.
Mesmo com o respaldo de Mourão e Heleno, a avaliação no Planalto ainda era de que o próprio presidente deveria se posicionar. E assim o fez.
Garoto-propaganda
A transmissão foi comemorada por governistas e líderes partidários dispostos a compor a base aliada. A transmissão ao vivo era um pedido dos aliados para construir uma estratégia de comunicação capaz de mobilizar apoio da população a fim de aprovar a reforma da Previdência. “É um início. Agora, é não parar”, ponderou o deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), líder da legenda na Câmara. “Ou o garoto-propaganda é ele, ou não tem reforma.
O sucesso da “live” motivou o governo a reproduzir a estratégia todas as quintas-feiras, às 18h30. A meta é comunicar ao público as ações e medidas defendidas pelo governo. Como ontem, quando Bolsonaro comentou sobre a reforma da Previdência (leia mais na página 3), a pretensão em estender a validade da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de cinco para 10 anos e a proposta de extinguir as lombadas eletrônicas no país. “Não teremos mais nenhuma, e as lombadas que por ventura existirem — que ainda são muitas —, quando forem perdendo a validade, não serão renovadas”, afirmou.
Contratos renovados
O governo decidiu renovar os contratos com as agências Isobar e TV1 para cuidar da área de mídias digitais da Presidência da República. A renovação prevê o desembolso de R$ 32 milhões por ano com os serviços das duas empresas, o que representou uma redução de 25% em relação ao contrato anterior. A ideia é que as duas contratadas continuem fazendo o monitoramento dos perfis oficiais da Presidência. No fim de 2018, aliados do presidente cogitaram cancelar a prestação dos serviços e montar uma estrutura menor, para cuidar das redes sociais oficiais..