Os políticos mais tarimbados do país já fizeram suas apostas para o futuro: o DEM, comandado por ACM Neto. Eles acreditam que o partido que tem Onyx Lorenzoni na Casa Civil, Rodrigo Maia na Presidência da Câmara, Davi Alcolumbre no comando do Senado e dois ministérios que fazem o contato direto com os prefeitos — Agricultura e Saúde — está no aquecimento para tutelar o governo do presidente Jair Bolsonaro. Para completar, será o DEM que segurará a abertura de processo contra o presidente, caso a oposição cumpra a promessa de pedir o impeachment de Bolsonaro, por causa dos tuítes carnavalescos.
As chances de os partidos de centro investirem contra o presidente hoje é zero, porém, caberá ao DEM de Rodrigo Maia jogar qualquer pedido desses para fora do campo, deixando Bolsonaro devedor. Até aqui, comentam os demistas nos bastidores, nem o presidente pediu formalmente o apoio do Democratas nem o comandante da agremiação, ACM Neto, convocou qualquer reunião da Comissão Executiva Nacional para formalizar o apoio ao governo. O baiano, dizem seus amigos, aguarda um chamamento do Planalto para seguir esse ritual.
A tutela do DEM sobre o governo, entretanto, vai muito além do simples pedido de impeachment da oposição. Caberá ao partido, no comando do Congresso, ditar o ritmo das reformas. E, para completar, o PSL não tem uma bancada tão experiente no jogo congressual. Aqueles que poderiam fazer o contraponto ao DEM estão hoje mais próximos dos demistas do que do Planalto. O MDB virou sucata, conforme definem os políticos nos bastidores. O PP, o PSD e o PR têm mais acordos com o DEM do que com o governo. O PSDB, idem.
Jair Bolsonaro começou uma aproximação com os tucanos logo no início de seu governo. Recebeu com toda a pompa o governador de São Paulo, João Doria, seu aliado. O paulista apoia o governo, mas joga seu próprio xadrez político. No carnaval, esteve em Salvador, ao lado de ACM Neto, com quem almoçou na quarta-feira de cinzas, um encontro para aproximar e traçar cenários futuros.
Ambos concluíram que o momento é de ajudar o governo a aprovar as reformas para melhorar o ambiente econômico. Porém, é recomendável guardar distância das confusões que o governo arruma para si, especialmente com os posts de Bolsonaro no Twitter. Em meio ao carnaval, por exemplo, o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento, alertou que as polêmicas levantadas pelo presidente e seus ministros “contaminam o ambiente de um debate que se mostra difícil e algo de muita distorção”, disse, referindo-se à reforma previdenciária. “O ideal é a mobilização das redes e das ruas para um tema central, mostrando disposição para o debate (da previdência) e articulação política”, disse o líder.
Grupo seleto
Para sorte do presidente, Onyx Lorenzoni, o leal ministro da Casa Civil, conseguiu logo na largada do governo fincar um pé no seleto grupo que detém algum poder dentro do partido. O que lhe garantiu esse ingresso foi a vitória do jovem senador Davi Alcolumbre para a presidência do Senado. Se Davi tivesse perdido para Renan Calheiros (MDB-AL), o partido de Renan iria para uma boa “reciclagem”, e o DEM mais ligado a Onyx perderia espaço, deixando o presidente da República à mercê de Rodrigo Maia e ACM Neto. Agora, o jogo será outro.
Bolsonaro já foi alertado por amigos que precisa aproveitar esta semana antes da viagem aos Estados Unidos para deixar tudo engatilhado com os partidos. Além de pedir apoio formal ao próprio DEM, de forma a amarrar a relação com a agremiação de ACM Neto, ele terá, ainda, que estabelecer contatos mais diretos com os demais partidos para não ficar totalmente dependente do jogo do Democratas. Ninguém se esquece de que Dilma Rousseff deixou seu jogo político nas mãos do MDB e terminou fora do governo. Bolsonaro, que já foi parlamentar, sabe que não dá para terceirizar o contato com os partidos. Por isso, agirá para não deixar que seu governo seja tutelado por ninguém. Essa partida de xadrez começa agora.