Washington, DC – O excelente humor do presidente Jair Bolsonaro com a viagem aos Estados Unidos foi amortecido pelas notícias que ele leu ainda no Brasil, a respeito das declarações de Olavo de Carvalho, considerado o guru do bolsonarismo. No voo, ele chegou a comentar com os ministros que as declarações foram, no mínimo, inoportunas. O que mais incomodou o presidente foi o fato de o professor e filósofo dizer em alto e bom tom que “se continuar como está por mais seis meses, acabou”, como se fosse o fim do governo. Isso sem contar as críticas feitas aos militares próximos ao presidente, a quem Carvalho chamou de um grupo “cagão” e ainda acusou o vice-presidente, Hamilton Mourão, de “mentalidade golpista”.
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Perguntado numa rápida entrevista em frente à residência da embaixada se Bolsonaro conversara com o professor Carvalho, o porta-voz da Presidência, general Otávio Santana do Rêgo Barros, limitou-se a dizer que “sim, porque faz parte da mesa”. E acrescentou: “As opiniões pessoais de quaisquer pessoas devem ser a elas direcionadas quando eventualmente tenhamos dúvidas sobre o que ela quis dizer ou não dizer”, afirmou o porta-voz, dando a entender que não está descartada uma conversa entre eles. As declarações de Carvalho terminarão por marcar uma certa distância entre o presidente e o filósofo, apostam alguns integrantes da comitiva.
Bolsonaro desembarcou ontem à tarde nos Estados Unidos para uma agenda de praticamente 48 horas, onde o pêndulo do governo balançará entre a parte econômica, capaz de alavancar o país a outro patamar – e com isso, o prestígio de seu governante – e uma parte mais ideológica, que estreita o diálogo com outras forças políticas, importantes. As frases polêmicas de Olavo de Carvalho, avaliam alguns aliados do presidente, fazem com que o Bolsonaro termine mais dedicado à pauta econômica.
Hoje, por exemplo, o ponto alto da agenda será o discurso na Chamber of Commerce, a Câmara de Comércio, onde a maioria dos ministros tem extensa agenda de negócios.
Nesse primeiro discurso, mais protocolar, o presidente mencionou, nas palavras do porta-voz, que “democracia e liberdade são o que unem os dois países neste momento”. Rêgo Barros mencionou ainda que os objetivos desta viagem são “fortalecer o nosso comércio, reconhecendo que os Estados Unidos são o segundo mercado para os produtos brasileiros, e a democracia neste lado do Ocidente, que é extremamente importante, reconhecendo que aspectos relativos ao antigo comunismo não podem mais imperar nesse ambiente que vivenciamos”.
EMBAIXADOR O presidente não deve trocar o embaixador em Washington nesta viagem. Segundo Rêgo Barros, o presidente elogiou o trabalho de Sérgio Amaral, e que ainda fará os estudos necessários para a substituição do posto, considerado chave na geopolítica brasileira. Amaral, que já foi porta-voz, conversou bastante com Rêgo Barros no coquetel que antecedeu o jantar. “Ele me disse que tomasse cuidado com vocês”, brincou o porta-voz, que saiu do jantar para conceder uma entrevista na porta da residência da embaixada, onde os termômetros marcavam 7º graus.
PREVIDÊNCIA Rêgo Barros confirmou que a nova previdência dos militares será encaminhada ao Congresso quarta-feira, quando o presidente já estará de volta ao Brasil.
Parceria
Ao desembarcar ontem na Base Aérea de Andrews, em Washington, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em suas redes sociais que sua visita aos Estados Unidos representa o início de uma “parceria pela liberdade e prosperidade”. Bolsonaro disse que por muito tempo presidentes brasileiros adotaram a “postura antiamericana” nas políticas internacionais.
“Pela primeira vez, em muito tempo, um presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington. É o começo de uma parceria pela liberdade e prosperidade, como os brasileiros sempre desejaram”, escreveu. Fez um post ainda dizendo que se sente honrado em se hospedar na Blair House, local próximo da Casa Branca destinado a visitas de chefes de Estado.
“É uma honraria concedida a pouquíssimos chefes de Estado, além de não custar um centavo aos cofres públicos.