Há cerca de 70 dias em Brasília, agora como ministro, o ex-juiz federal Sérgio Moro enfrenta certa resistência na aceitação do seu projeto anticrime e vê entre parlamentares o surgimento da ideia para o fim da unificação das áreas de Justiça e Segurança Pública.
Apesar disso, o ex-titular dos processos da maior operação de combate à corrupção do País afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo ter feito a escolha certa ao aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Seu argumento é que somente em Brasília é possível consolidar a onda de combate à corrupção iniciada pela Lava Jato por meio de políticas públicas.
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Em artigo, Moro nega 'licença para matar' nos projetos anticrimeMoro sofre dissabores no comando da JustiçaEm visita fora da agenda nos EUA, Bolsonaro vai à CIAMoro reage às críticas de Maia de que estaria desrespeitando acordoMoro pede para Congresso se debruçar sobre projeto de segurança públicaQuestionado sobre críticas que recebe, principalmente nas redes sociais, Moro afirmou que todos os órgãos da pasta têm independência para atuar. Defendeu ainda a indicação dos integrantes do Conselho de Controle da Atividade Financeira (Coaf), que, segundo ele, nunca será utilizado para perseguir adversários políticos do governo. A seguir, a entrevista do ministro:
O Ministério da Justiça e Segurança Pública vai ser separado? Por quê?
O Ministério da Justiça e o Ministério da Segurança Pública foram unificados no novo governo. No entanto, no Congresso há alguns parlamentares que apresentaram proposta de nova separação. Penso, com todo o respeito, que isso apenas enfraqueceria o combate à criminalidade, pois é necessário um ministério forte e na qual possam ser integrados os esforços das diferentes áreas envolvidas em Justiça e Segurança Pública.
O acúmulo de áreas e funções pode emperrar seu projeto? Ou vai em frente?
A reunião de diversos órgãos e secretarias encarregadas de setores específicos da segurança pública é essencial. Outro exemplo, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) tem uma atribuição importante - e que estamos fortalecendo - de gestão de bens sequestrados e confiscados do tráfico de drogas. O tráfico de drogas gera, infelizmente, muitos lucros, e confiscar o patrimônio do criminoso é uma estratégia importante para prevenir o tráfico. Atualmente, há 50 mil bens à disposição da União, entre eles, 314 aeronaves. Vamos agilizar a venda desses bens e os recursos poderão ser investidos na segurança pública ou em políticas de prevenção. Não faz nenhum sentido deixar essa atividade relevante separada de outros braços da segurança pública, como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, como foi feito quando Justiça e Segurança eram separados.
Passados os primeiros 70 dias de governo, o sr. está convencido de que fez a escolha acertada ao deixar a magistratura?
Sim, é preciso consolidar os avanços anticorrupção da Operação Lava Jato em políticas mais gerais, o que só pode ser feito em Brasília, concomitantemente com políticas de redução de crimes violentos e de enfrentamento do crime organizado.
Já acumula decepções?
Há eventos trágicos e perturbadores, como o havido nos assassinatos em Suzano (na escola Raul Brasil). Isso eleva a ansiedade e desejo de acertar o mais rapidamente possível as políticas necessárias de segurança.
Falemos sobre o Coaf. Há críticas sobre nomeações de conselheiros do conselho. Está em curso um aparelhamento do Coaf?
Não há qualquer aparelhamento. O Coaf tem uma reputação de ser um órgão eminentemente técnico e, assim, continuará sendo. Todos os conselheiros são pessoas altamente qualificadas e usualmente indicadas por seus órgãos de origem.
O Coaf, até o governo anterior, tinha apenas 37 funcionários. Esse cenário já foi alterado? Qual a meta de número de servidores no órgãos na sua gestão?
O Coaf, apesar da qualidade de seus serviços, estava um pouco negligenciado no final do governo anterior, provavelmente pelas próprias dificuldades com ajuste fiscal e recursos humanos.
Qual a garantia de que o conselho terá independência para agir?
Todos os órgãos atuantes no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública têm por dever cumprir bem sua função. A independência técnica é pressuposto e garantia legal.
A mudança terá impacto no trabalho do Coaf em conjunto com grandes investigações de combate à corrupção e lavagem de dinheiro?
Embora o Coaf seja um órgão de inteligência, e não de investigação, uma das inovações para fortalecer o órgão e o trabalho dele foi a de criar um setor dedicado especificamente a atender e auxiliar operações especiais de investigação.
Críticos temem que o Coaf poderá ser utilizado pelo governo para perseguir adversários políticos. Como o sr. responde a isso?
Não há nenhuma base concreta para este temor. As pessoas que convidei para ocupar os cargos de direção no Ministério da Justiça e Segurança Pública têm reputação ilibada e reconhecida competência técnica. Nem se eu quisesse - e não quero - aceitariam qualquer desvirtuamento de suas funções. .