Jornal Estado de Minas

POLÍTICA

Coaf revela tentativa de depósito de R$ 20 milhões para empresa de amigo de Temer

Investigadores do Ministério Público informaram que uma das informações apuradas pelo Conselho de Controle de Atividade Financeiras (Coaf) apontou que uma pessoa não identificada tentou depositar R$ 20 milhões em dinheiro vivo na conta da empresa do coronel João Baptista Lima, amigo do ex-presidente Michel Temer, em outubro do ano passado. 

 

A tentativa não foi concluído, mas a tentativa frustrada apontada pelo Coaf foi citada pelos procuradores como mais um indício de lavagem de dinheiro do esquema em que o ex-presidente Temer era o cabeça. 

 

Segundo o Ministério Público Federal, além de tudo, ele continua a lavar dinheiro. "prova de que Coronel Lima continua atuando na lavagem de capitais em prol da organização criminosa é a informação do COAF sobre a tentativa de depósito de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) em espécie, em 23/10/2018, na conta bancária da Argeplan, que apenas não se concretizou diante da negativa da instituição bancária".
 

Uma prisão na Operação Skala, da Polícia Federal, e uma devassa na Operação Patmos não impediram o coronel João Baptista Lima Filho, amigo do ex-presidente Michel Temer, de tentar movimentar altas cifras em dinheiro vivo, segundo constatou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). 


Coronel Lima foi preso nesta quinta-feira, 21, ao lado do ex-presidente e outros investigados por propinas em obras da Eletronuclear para a Usina de Angra 3.

Ele já é denunciado no inquérito dos Portos, em que é apontado como suposto intermediário de propinas do ex-presidente. Aliado de Temer desde os anos 1980, nesta investigação ele está sob suspeita de intermediar supostas propinas de R$ 1 milhão da Engevix.

Lima já havia sido alvo de buscas e apreensões na Operação Patmos (maio de 2017), embasada na delação da JBS, e preso na Skala (março de 2018), que mirava o circulo de amizades do ex-presidente emedebista.

Desde que entrou na mira da PF, em maio de 2017, coronel Lima tem se esquivado de prestar depoimentos sob a alegação de que está doente, e que teve um AVC.

Segundo os investigadores, no entanto, ele não afirmou à Receita Federal ser portador de qualquer doença grave. "Isso leva a crer que o Coronel Lima não apresenta doença grave que possa, de alguma forma, interferir na decretação da prisão preventiva."

O Coaf recebeu as informações de uma agência bancária na rua Heitor Penteado, na Vila Madalena, mesmo bairro onde fica sediada a Argeplan.

O banco informou ao Conselho que a conta da empresa de Coronel Lima foi aberta naquela agência e é "de conhecimento público que este sócio é acusado de ser suposto intermediador no recebimento de recursos de origem duvidosa".

No dia 23 de outubro de 2018, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, o banco reporta, "de boa fé", ao Coaf que houve uma "tentativa de depósito em espécie no valor de R$ 20 milhões".

"O depósito foi recusado na agência, sendo que na abordagem foi solicitado ao portador a comprovação da origem dos valores para recebimento e reativação da conta, em atendimento à legislação de PLD vigente. O portador, que não se identificou, se retirou da agência e não obteve êxito na realização do depósito", diz.

Segundo a força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio, há, "portanto, demonstração concreta da necessidade de decretação da prisão preventiva de João Baptista Lima Filho para assegurar a ordem pública e impedir a continuidade dos atos criminosos que já se perpetuam há 40 anos (e continuaram a acontecer mesmo após a decretação de sua prisão temporária)".

Desde a década de 1980

A Procuradoria da República no Rio afirma que Coronel Lima "é a pessoa de confiança de Michel Temer desde a década de 80".

"Juntos construíram uma vida de cometimento de ilícitos em prejuízo ao Erário. Não por outra razão, Coronel Lima é uma figura de destaque na organização criminosa, sendo o responsável por administrar as empresas Argeplan e PDA. Dentre outras, ambas as empresas foram constituídas em nome de Lima e outros para encobrir as negociatas ilícitas realizadas por Michel Temer, bem como para realizar os atos de lavagem de dinheiro."

"Vê-se que por quase 40 anos a parceria criminosa atua de forma estável, perpetuando-se por décadas. Há demonstração concreta de que Michel Temer acumulou um 'crédito' de propina para receber no presente e no futuro, durante anos, pois os seus atos que beneficiaram o setor empresarial permitiram a barganha de uma 'poupança de propina' com resgate quase que vitalício", diz o Ministério Público Federal.

Segundo a Lava Jato, o "modus operandi utilizado pela organização criminosa para acertar o recebimento da propina ao longo de décadas, ultrapassando o período do exercício do cargo público (no caso, o de Deputado Federal e, depois, o de vice e de Presidente da República), é fundamento bastante para demonstrar a necessidade da prisão preventiva para interromper os delitos que permanecem ocorrendo".

"E mais: investigações, denúncias e uma prisão temporária (de João Baptista Lima Filho) foram absolutamente insuficientes para barrar a atuação do grupo criminoso.
Tal objetivo apenas poderá ser atingido mediante a prisão preventiva dos integrantes do núcleo sólido", argumentam os procuradores.

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