O assessor especial do presidente Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, Filipe Martins, usou o Twitter ontem para defender que alas do governo se unam e articulem uma mobilização popular para proteger a Lava Jato, promover reformas econômicas e quebrar "a velha política". Em uma série de postagens na rede social e sem citar nomes, Martins afirmou que "há uma flagrante tentativa de isolar" o grupo "anti-establishment" do governo, no qual ele se insere.
Segundo ele, é "ilusão" acreditar que será possível avançar sem "romper com a forma convencional de fazer política no Brasil". Por isso, em sua avaliação, é preciso que o governo trabalhe para aquecer seu eleitorado. "A única forma de ativar a lógica da sobrevivência política é por meio da pressão popular, por meio da mesma força que converteu a campanha eleitoral do PR Bolsonaro em um movimento cívico e tornou possível sua vitória. É necessário, em suma, mostrar que o povo manda no País", escreveu.
As publicações foram feitas no momento em que a relação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o Executivo ficou estremecida por causa de ataques ao deputado postados nas redes sociais por partidários do presidente.
Considerado um discípulo do escritor Olavo de Carvalho e ligado ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), Martins se tornou um dos principais auxiliares e uma espécie de conselheiro de Jair Bolsonaro. As mensagens foram publicadas por ele enquanto estava no Chile acompanhando o presidente em missão oficial.
Na postagem, ele alerta que há em curso uma tentativa de isolar sua ala com o objetivo de torná-la "tóxica e mal vista" pelos demais grupos.
Martins não nomeou quais seriam esses grupos, mas fez menção direta à equipe econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes, e à equipe do Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandada pelo ministro Sérgio Moro. Segundo ele, "tentam vender" a esses dois grupos que o caminho mais adequado é o que passa pelo diálogo e pela negociação política - o que ele considera um erro.
A declaração contribuiu para aumentar a cizânia entre governo e Maia. "Uma pessoa que afronta a democracia brasileira nas redes sociais, você me desculpa, ou ele é autoritário, ou ele tem algum problema. E nós não podemos aceitar. A gente não pode brincar com a democracia no Brasil", disse Maia ao Estado ao ser questionado sobre a publicação.
"É por isso que o Twitter é tão importante para eles. Essa disputa do mal contra o bem, do sim contra o não, do quente contra o frio é o que alimenta a relação deles com parte da sociedade. Só que agora eles venceram as eleições.
As mensagens também repercutiram mal no Congresso. Deputados cobraram do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, explicações sobre o conteúdo publicado por Martins.
O Palácio do Planalto tentou minimizar o impacto da mensagem. Segundo um integrante do governo, a publicação feita no momento em que o governo tenta debelar uma crise com o Congresso "não ajudou", mas não irá modificar a estratégia da articulação política. Essa fonte afirmou que "a grande força da natureza", capaz de moldar decisões do governo, chama-se Carlos Bolsonaro. Martins, argumentou essa fonte, tem maior influência em assuntos internacionais e não internos.
Interlocutores do assessor afirmaram que o intuito com as mensagens não foi criticar membros do Congresso, mas questionar a estratégia de comunicação do próprio Bolsonaro. A ideia é defender que o presidente use o seu "diferencial" da campanha, com forte atuação e mobilização na internet, e não aceite o discurso de que apenas a articulação política pode viabilizar a aprovação de reformas e outras medidas relevantes para o governo.
Martins é hoje um dos funcionários civis no terceiro andar do Palácio do Planalto com mais acesso a Bolsonaro. Atualmente, a maioria das salas próximas ao gabinete presidencial é reservada a militares que compõem o governo. Ele e Bolsonaro mantêm clima amistoso.