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Estado de Minas

Em 100 dias de Bolsonaro no governo, 28 crises sacudiram o Planalto; relembre as principais

Jair Bolsonaro completa, nesta quarta-feira, centésimo dia no governo, com a missão de contornar conflitos entre aliados para fazer prometidas políticas públicas


postado em 07/04/2019 06:00 / atualizado em 07/04/2019 07:32

Segundo Bolsonaro, foram cumpridas 95% das 35 metas que estipulou com sua equipe em janeiro, mas críticos veem pouca ação (foto: Evaristo Sá/AFP)
Segundo Bolsonaro, foram cumpridas 95% das 35 metas que estipulou com sua equipe em janeiro, mas críticos veem pouca ação (foto: Evaristo Sá/AFP)

Brasília – Nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro completa o centésimo dia de governo marcado por uma das mais profundas — e turbulentas — transições do mais recente período democrático no Brasil. A troca de comando no Palácio do Planalto em 1º de janeiro representou a chegada de personagens e de tentativas de guinadas de políticas públicas. Levantamento feito pelo Estado de Minas a partir das primeiras ações do chefe da Esplanada e dos ministros — além de entrevistas com especialistas, políticos e professores — revela, porém, que as controvérsias produzidas pelos próprios aliados criaram dificuldades para o Executivo.

Ao todo, no período, os principais atores governistas tiveram que voltar a atenção para 28 crises que se desenrolaram por 40 dias, consumindo tempo e energia que poderiam ser direcionados a projetos mais urgentes. Na média, são duas polêmicas abertas por semana.


O presidente Jair Bolsonaro diz que o governo concluiu 95% das 35 metas estipuladas em janeiro deste ano para os 100 primeiros dias. Na educação, o governo se propôs a lançar o programa Alfabetização acima de tudo, para definir soluções didáticas e pedagógicas para o aprendizado da leitura e escrita. Na segurança pública, o Ministério da Justiça entregou o decreto de facilitação à posse de armas, mas apenas apresentou o pacote anticrime. Outras ações estabelecidas já dispõem de previsão legal, mas que o governo ainda estipulou como meta a ser alcançada.

As crises estão intimamente ligadas aos grupos dentro do governo, que se dividem entre os técnico-econômicos — encabeçados pelos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro —, os associados às Forças Armadas e os folclóricos, ligados ao conservadorismo cultural. Não por acaso, a primeira controvérsia teve como protagonista Damares Alves, da pasta das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos.

Três dias depois da posse de Bolsonaro, um vídeo em que Damares exalta a vitória do capitão reformado foi divulgado: “A nova era começou: agora, menino veste azul e menina veste rosa”. As imagens viralizaram nas redes sociais. Depois, Damares afirmou que se tratava de uma metáfora. No time del, estão ainda os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez (Educação), este último prestes a entregar o chapéu e deixar a Esplanada amanhã. Em comum, eles têm como guru o escritor Olavo de Carvalho, que abriu guerra com o grupo militar.

Sem tutela É possível afirmar que o próprio Bolsonaro estimulou tais declarações desde os discursos no primeiro dia de governo, quando afirmou: “Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores”. Especialistas apontam que ainda é um presidente preso à própria campanha, e, ao contrário do anunciado na posse, que busca a divisão para reforçar a própria gestão. Uma questão é que, diferentemente do imaginado ao longo da campanha, nenhuma das turmas (folclórica, técnico-econômica e militar) conseguiu tutelar Bolsonaro.

“Há uma disputa aberta de poder entre esses grupos, mas o que se vê é que o presidente tem independência, a ponto de não parecer se incomodar com os conflitos”, afirma Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB). “Bolsonaro decide pela própria cabeça, isso parece evidente.” Onde tal coisa vai dar, ainda é cedo para avaliar, mas uma marca desses quase 100 dias de governo é a desconfiança, que amplia incertezas sobre o sucesso.

Uma das principais tensões dentro do governo Bolsonaro está no conflito entre os militares e os olavetes, como são chamados os discípulos do escritor Olavo de Carvalho, considerado o inspirador da ideologia do presidente. Em Washington, em meados de março, um dia antes da chegada do presidente aos Estados Unidos, o professor — pelo menos para parte da equipe da Esplanada — desancou o vice-presidente Hamilton Mourão: “Um cidadão que não tem os direitos humanos elementares está na maior impotência. E essa é a situação do nosso presidente. Ele não tem o direito de se defender na Justiça quando atribuem crimes a ele. É horrível o que estão fazendo com ele. É ditadura. É opressão. É um homem sozinho. Não pode confiar naqueles que o cercam e nem na mídia”, disse Olavo, para completar: “Essa concepção, que é a do Mourão, é uma concepção golpista. Onde isso vai dar, não sei, não estou em Brasília. Mas é grave, é claro que é grave. Estou com c... na mão pelo Brasil, não por mim”.

Interesses A ala militar, que não vê a menor importância em Olavo, acompanha os ataques. Mas, se há alguma razão nas palavras do professor, é a tal da desconfiança entre os grupos. “A baixa confiança e os interesses conflitantes dos grupos são problemas que se agravam com a falta de senso de urgência do próprio governo Bolsonaro”, diz Thiago Vidal, gerente de análise política da consultoria Prospectiva.

Em meio às crises entre os grupos da Esplanada, os filhos mais velhos de Bolsonaro — Flávio, Eduardo e Carlos — nunca funcionaram como bombeiros, mas, segundo o professor Paulo Calmon, servem como âncoras do pai em relação aos eleitores mais fiéis, aqueles que consolidaram os votos ainda no início da campanha. “Por mais que seja criticada, há uma virtude em Bolsonaro: não se afastar das bases. E os filhos têm esse papel, de manter os temas acesos”, diz Calmon. Isso não significa que tal estratégia funcione de maneira adequada sempre; afinal, boa parte das crises tem como protagonistas os filhos do presidente.

* Estagiária sob supervisão de Leonardo Meireles

TI-TI-TI oficial

Relembre algumas das  principais polêmicas em Brasília, quem foi o pivô da crise e  o bate-cabeças dos integrantes do governo

Damares  
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (foto), disse em vídeo que “menino veste azul e menina veste rosa”, ao combater a chamada “ideologia de gênero”

Livros
Governo mudou edital para aquisição de livros didáticos que seriam entregues em 2020, e permitiu materiais escolares sem referência bibliográfica. Teve de recuar

Armas
Bolsonaro assinou decreto que facilita posse de armas. Medida gerou polêmica tanto entre críticos da política de armar a população quanto entre apoiadores da medida

Olavetes
Olavo de Carvalho, conhecido como “guru de Bolsonaro”, fez várias declarações e críticas a setores do governo, estimulou demissões e xingou militares

Por cargos
Funcionária da agência de comunicação que contratou disparos em massa de mensagens para a campanha presidencial de Bolsonaro ganhou cargo na Secretaria-Geral da Presidência.

Árabes
O governo da Arábia Saudita suspendeu a importação de frango do Brasil. Ficou demonstrado descontentamento com a possível mudança da embaixada do Brasil em Israel, de Telavive para Jerusalém

Bebianno
O então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi o pivô de uma das principais crises políticas do governo e acabou demitido depois de denúncias

Filhos
Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou um tuíte no qual contrariava declaração de Bebianno e o chamava de mentiroso, fato que gerou tensão entre aliados do governo

Denúncias
A ex-professora Cleuzenir Barbosa, ex-candidata pelo PSL, afirmou que o ministro do Turismo, Álvaro Antônio, sabia de tudo sobre as candidaturas laranjas do partido

Ricardo Vélez
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, pediu que diretores das escolas lessem carta que terminava com slogan da campanha de Bolsonaro, além de solicitar que gravassem vídeos de alunos cantando o Hino Nacional, entre outras polêmicas que devem levar ao afastamento dele amanhã

Vídeo obsceno
Bolsonaro divulgou vídeo obsceno durante o carnaval. Após o tuíte, o presidente ainda postou a pergunta: “O que é Golden Shower?” que levou a hashtag #GoldenShowerBolsonaro aos trending topics.

Dubiedade
O presidente Jair Bolsonaro afirmou em um evento que democracia e liberdade só existem se as Forças Armadas permitirem. Fala gerou desagrado entre os militares

Rodrigo Maia
O clima entre os poderes estremeceu. Rodrigo Maia e Bolsonaro trocaram farpas ao longo de vários dias. A paz só voltou depois de um alerta geral de interlocutores dos dois lados

Golpe de 64
Bolsonaro recomendou “comemoração devida ao golpe”, se referindo aos 55 anos da data de início da ditadura militar. Justiça chegou a proibir o governo de comemorar o golpe

Falas no exterior
Em três viagens internacionais, Bolsonaro fez declarações polêmicas. Nos Estados Unidos, afirmou que maioria dos imigrantes “não tem boas intenções”, e depois voltou atrás. No Chile, elogiou o ditador Augusto Pinochet, irritando o presidente chileno, Sebastian Piñera. Em Israel, afirmou que o nazismo era de esquerda

 


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