Brasília – O presidente Jair Bolsonaro está programando viagem ao Nordeste e deve aproveitar a ocasião para anunciar o pagamento do 13.º salário do Bolsa-Família. O dinheiro para bancar a medida já está reservado no Orçamento da União. A incursão de Bolsonaro à única região em que ele não foi vitorioso nas eleições faz parte da tentativa de reaproximação com o Congresso, para aprovar reformas, e de alavancar novamente sua popularidade, depois do recuo amargado em março.
A data da viagem e o itinerário de Bolsonaro no Nordeste ainda não foram definidos. Uma possibilidade em estudo é que o presidente e sua comitiva desembarquem na região no fim do mês ou no início de maio. A iniciativa já tem sido sinalizada a congressistas em reuniões com a área econômica.
O 13.º do Bolsa-Família foi uma promessa de campanha de Bolsonaro e deve ser mencionado no balanço dos primeiros 100 dias de governo, a serem completados nesta quarta-feira. Contudo, a ideia é usar a viagem para mostrar, numa região com muitos beneficiários do programa, que o governo está atuando em outras frentes além da reforma da Previdência, pauta considerada impopular.
Parlamentares da região reclamam que a reforma da Previdência tem sido até agora a única pauta do governo, o que aumenta as cobranças na base eleitoral sobre os congressistas. O anúncio do 13.º seria um afago no sentido de dar aos deputados e senadores uma bandeira num momento de tentativa de construção da base aliada, além de apontar para uma agenda mais positiva. A equipe econômica também tem se debruçado sobre medidas para tentar alavancar o crescimento.
No Congresso, a principal reclamação nos bastidores é a falta de clareza na agenda que será tocada por Bolsonaro durante seu governo, não só na economia, mas também em outras áreas. Sem essa visão de longo prazo, o presidente encontra dificuldades em convencer potenciais aliados a carimbar em si mesmos o selo de “base do governo”, que se traduz no compromisso de apoiar e atuar em defesa das iniciativas do Executivo.
A ida de Bolsonaro ao Nordeste ajuda a azeitar esse caminho na tentativa de construção da base, pois garante momentos de exposição dos parlamentares ao lado do presidente numa situação positiva, de anúncio de expansão do programa social.
Resistência O dinheiro necessário para bancar o 13.º do Bolsa Família já foi reservado no Orçamento de 2019, apesar do corte bilionário em outras despesas para assegurar o cumprimento da meta de déficit fiscal para o ano. São R$ 2,6 bilhões destinados à medida, elevando os recursos do programa social para R$ 32,1 bilhões neste ano.
O coordenador da bancada do Nordeste, deputado Julio Cesar (PSD-PI), diz que os parlamentares estão tentando estabelecer uma ponte com Bolsonaro e esperam ser recebidos pelo presidente nos próximos dias para tratar de assuntos da região. “Esta reaproximação é importante”, afirma.
A bancada do Nordeste também é uma das mais resistentes a pontos polêmicos da reforma da Previdência, como o endurecimento das regras de aposentadoria rural e do benefício assistencial para idosos miseráveis. A região concentra 27% dos beneficiários da Previdência Social e quase metade dos aposentados rurais no país. Na quarta-feira passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi ouvido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados e enfrentou uma batelada de questionamentos.