Macapá – O presidente da República, Jair Bolsonaro, determinou a suspensão do reajuste de 5,7% no preço do diesel (o litro passaria de R$ 2,1432 para R$ 2,2662), anunciado pela Petrobras. O novo valor começaria a ser cobrado ontem, mas vai ficar suspenso até que os técnicos da estatal justifiquem ao presidente a necessidade do aumento. A empresa manteve sem alteração o preço médio do litro da gasolina A sem tributo nas refinarias, válido para hoje, em R$ 1,9354. Além disso, a estatal manteve sem alteração o preço do diesel, em R$ 2,1432, conforme tabela disponível no site da empresa. “Liguei para o presidente, sim. Eu me surpreendi com o reajuste de 5,7%. Não vou ser intervencionista. Não vou praticar a política que fizeram no passado, mas quero os números da Petrobras”, afirmou Bolsonaro no Amapá, onde inaugurou o aeroporto internacional de Macapá.
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Guedes sugere que não foi informado sobre intervenção em preço do dieselGoverno sinaliza que decisão sobre diesel pode ser postergadaBolsonaro admite que determinou suspensão no reajuste do diesel da PetrobrasGoverno anuncia R$ 2 bi para estradas e R$ 500 mi em crédito para evitar greve dos caminhoneirosBolsonaro busca conter perdas na Petrobras após intervir na estatalNa quinta-feira, a Petrobras anunciou um aumento de 5,7% no preço do diesel, 15 dias após o último ajuste. Em nota divulgada horas depois, no entanto, a petroleira suspendeu o aumento, afirmando que “avaliou ao longo do dia, com o fechamento do mercado, que há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel”. Segundo Pablo Spyer, da corretora Mirae Asset, o recuo gerou reação dos investidores avessos à medida. “Traz um desconforto, principalmente, porque mudou muito radicalmente a decisão.” Até então, a maior alta tinha sido de 3,5%, registrada em 23 de fevereiro. Com exceção desses dois casos, os preços variaram em intervalos de 1% a 2,5%.
Para Bolsonaro, o valor não corresponde à inflação projetada para o período. “Convoquei para terça-feira todos da Petrobras para me esclarecerem o porquê dos 5,7%, quando a inflação projetada para este ano está abaixo de 5%.
A mudança na política de preço dos combustíveis foi adotada na gestão do ex-presidente da companhia Pedro Parente, que determinou a revisão diária da tabela nas refinarias, em linha com o mercado internacional. Sem saber o preço que pagaria pelo combustível no fim de uma viagem, os caminhoneiros entraram em greve. Além disso, para encerrar os protestos, o governo ainda subsidiou o diesel por um semestre. Apenas em 2019, o diesel voltou a ser reajustado periodicamente, semanalmente. Na terça, sob ameaça de nova greve, a Petrobras anunciou que vai manter os preços inalterados por, pelo menos, mais uma semana.
MAL-ESTAR O conselho de administração da Petrobras recebeu mal a notícia de que a empresa voltou atrás na decisão de reajustar o preço do diesel.
Comemoração nas estradas
Brasília – “Estou preocupado com o transporte de carga, com os caminhoneiros. São pessoas que realmente movimentam as riquezas. Queremos um preço justo para o óleo diesel”, disse o presidente Jair Bolsonaro, para justificar a decisão de segurar o preço do diesel. A avaliação de um integrante do governo é de que os caminhoneiros “conheceram a sua força” na última greve e que agora possuem maior poder de negociação.
Ele afirmou que os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria-Geral, Floriano Peixoto, foram os responsáveis por levar o “problema” do aumento de preços para Bolsonaro na quinta-feira. “Preciso agradecer num primeiro momento ao ministro Onyx (Lorenzoni, da Casa Civil) e ao ministro Floriano Peixoto (da Secretaria-Geral), que levaram o problema (do aumento de preços) para o nosso presidente”, afirmou. “A gente fica muito feliz, porque vê que ele (Bolsonaro) está olhando por nós. Só que a gente também sabe que não é uma situação muito fácil, vem chumbo grosso por aí, pode ter certeza, porque querendo ou não interfere na política de preços (da Petrobras)”, declarou.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que a determinação de Bolsonaro para a Petrobras recuar do reajuste no diesel foi caso “isolado”, que crê em bom senso e que não se repetirá a política de preços adotada do governo Dilma Rousseff (PT). O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência monitora atentamente as movimentações de caminhoneiros em direção a uma nova greve desde o mês passado. O governo quer evitar o início de uma greve com receio de que tome as mesmas proporções da que ocorreu no ano passado, quando a paralisação durou 11 dias. O estopim, na época, foi justamente as altas do preço do diesel. Vice-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Krishna Srinivasan foi questionado sobre a movimentação do presidente Jair Bolsonaro para barrar um reajuste do preço do diesel. Segundo Srinivasan, a empresa vinha em uma trajetória positiva e não é possível dizer, já neste momento, se isso provocaria uma revisão para um lado ou para outro na perspectiva para a estatal brasileira.
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