Endividados e de olho na parte que terão dos R$ 7 bilhões que o governador Romeu Zema (Novo) vai pagar aos municípios – que pelo acordo judicial fechado em 4 de janeiro entraria na conta em várias prestações –, os prefeitos já se articulam para antecipar o dinheiro em instituições bancárias. O primeiro aval para que isso ocorra pode ser dado em um projeto de lei apresentado na Assembleia Legislativa, que remete a autorização para que eles “vendam” a dívida do estado à aprovação das câmaras municipais.
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Zema abre nova crise com Legislativo e PSDB cobra posicionamentoGoverno Zema inicia batalha na ALMG pela recuperação fiscal Deputados propõem mudar reforma para 'ajudar' Zema em promessas de campanhaMais de 90% das prefeituras aderem ao acordo das dívidasAntes de obras, prefeitos querem verba para pagar salários, diz AMMCom os danos causados pelos 14 meses de retenção dos recursos, muitos prefeitos temem não ser reeleitos. Nesse caso, o pagamento do que faltou de dinheiro a ser repassado em seus mandatos ficaria para o próximo, que pode ser até um inimigo político.
Autor do projeto, o deputado Hely Tarquínio (PV) alega que os municípios foram vítimas de uma “covardia” e necessitam de intervenções emergenciais. “Esse projeto não cria obrigação ao estado, permite e fornece saídas aos municípios para equacionarem essa injustiça à qual foram acometidos e melhora a vida de muitos cidadãos nos nossos municípios tão fustigados.”
O prefeito de Mercês, Donizete Barbosa de Oliveira (PMN), está entre os que já sondaram instituições bancárias para saber se é possível antecipar os recursos. “Se houver um banco que compre esse ativo e for juridicamente correto, com certeza vamos vender”, disse. Com um crédito de cerca de R$ 4 milhões para receber, o prefeito diz ter passado dificuldades durante todo o mandato e que, com o acordo, o próximo administrador vai colher o recurso extra.
“Mas como a cidade é do povo, não podemos reclamar”, disse.
O presidente da AMM e prefeito de Moema, Julvan Lacerda (MDB), disse que a entidade já procurou bancos e está só esperando a regulamentação para fazer a negociação.
De acordo com o projeto de lei, os municípios ficam autorizados a ceder os direitos creditórios provenientes dos repasses atrasados de ICMS, IPVA e Fundeb devidos pelo governo do estado. Se repassados, serão mantidos os critérios de atualização ou correção dos valores e os prazos acordados.
Os bancos que eventualmente “comprarem” a dívida terão assegurada a prerrogativa de cobrança judicial e extrajudicial, caso o estado deixe de pagar o que foi empenhado no acordo.
O texto diz ainda que o município que repassar o crédito não poderá ser responsabilizado pelo inadimplemento parcial ou total do débito. Ainda de acordo com a proposta, a verba não será carimbada, podendo ser usada para o fim que o município precisar.
Em ambos os casos, a definição de limites de juros e encargos ficará para lei autorizativa que precisa ser aprovada pela respectiva Câmara Municipal. Já no uso para compensar débitos do município só será exigida autorização legislativa se a compensação for extrajudicial.
Pelo acordo fechado pelo governador Romeu Zema com os municípios, R$ 1 bilhão retidos em janeiro pela gestão atual serão pagos em três parcelas: em janeiro, fevereiro e março do ano que vem. Os outros R$ 6 bilhões devidos pelo ex-governador Fernando Pimentel (PT) serão depositados de abril de 2020 a setembro de 2022.
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