O vice-líder do governo no Congresso, o deputado federal Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), entrou com um pedido de impeachment contra o vice-presidente Hamilton Mourão. O pastor acusa o general da reserva de "conduta indecorosa, desonrosa e indigna" e de "conspirar" para conseguir o cargo de Jair Bolsonaro.
Leia Mais
Feliciano vê crime de responsabilidade em 'like' de Mourão e pede impeachmentBolsonaro visita Mourão e evita responder perguntas sobre preço do dieselBolsonaro deixa o Planalto para visitar Mourão no JaburuRodrigo Maia nega pedido de impeachment de Mourão e diz que denúncia é 'inadmissível''Olavo deve se limitar à função que desempenha bem, de astrólogo', diz MourãoFeliciano, depois de passar os dois primeiros meses do governo afastado do governo - ele acusa o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) de dificultar o seu acesso ao presidente -, virou um dos mais verborrágicos e contundente defensor de Bolsonaro no parlamento e nas redes sociais.
Em entrevista à reportagem, Feliciano afirma que todos os atos que ele faz tem o "conhecimento do presidente", inclusive este pedido. "Falei com ele antes, durante e depois. Não há nada que eu faça aqui que o presidente não saiba".
O pedido protocolado na terça-feira, 16, marca a conversão do pastor ao olavismo - termo utilizado para identificar os seguidores do professor Olavo de Carvalho. Na semana passada, o pastor esteve nos Estados unidos e se reuniu com o filósofo ligado à direita. Olavo tem usado suas redes sociais para atacar militares e, em especial, Mourão, o qual o acusa de ser uma "paixão mórbida" pela "mídia comunista".
Leia os principais trechos da entrevista:
Como o senhor, vice-líder do governo no Congresso, protocola um pedido de impeachment contra o vice-presidente da República?
Não sou um vice-líder que vai deixar de falar as verdades.
Isso é justificativa?
Os poderes de um vice-presidente estão limitados na Constituição Federal. O constituinte de 1988 enxergou que é muito tentador alguém que está tão próximo do poder e foi eleito sem ter nada, nenhum tipo de esforço, e delimitou suas funções - substituir o presidente em ausências temporárias ou na vacância do cargo e obedecer as ordens do presidente. Só isso. Ele não pode ficar contradizendo o presidente. O Mourão sentiu o cheiro do poder e quer o cargo de Bolsonaro.
Mas o que de fato justifica isso?
As provas finais vieram nas duas últimas semanas postadas no Twitter dizendo assim: 'Fico feliz quando Bolsonaro sai do País, porque o País fica nas mãos de alguém que consiga administrar, que me representa: Hamilton Mourão'. O Mourão vai e curti o Twitter dela (Raquel Sherazade).
Isso é motivo suficiente?
Calma.
Mas isso é ilação, deputado?
Se ele não fizer assim ele assume que é um conspirador. Isso é um jogo de xadrez. Mas aí vem o estopim. Mourão vai aos Estados Unidos e ele participa de eventos contrários ao presidente. Em um, no Wilson Center, havia um ofício dizendo claramente que não havia governo. A carta dizia: 'O Brasil está desgovernado e só há uma pessoa que pode colocar o País no rumo: general Hamilton Mourão'. E o general foi na palestra dessa.
Ao protocolar o pedido de impeachment, o senhor externa uma opinião do Bolsonaro?
Não. Eu entendo o meu lugar no espaço. Eu sou apenas um legislador.
Mas é um vice-líder do governo?
Sou um vice-líder no Congresso e minha função é exatamente de criar uma ponte de dialogo entre o governo e o Congresso. E blindar o presidente quando ele está sendo atacado.
O presidente anuiu ou foi comunicado desse teu ato?
Tudo que eu faço, ele sabe. Eu mando para ele.
Antes ou depois?
Antes, durante e depois.
Então o presidente viu esse pedido. Qual foi a reação?
Meu presidente foi muito ético. Ele não me repreendeu em momento nenhum. Isso para mim já é o suficiente. A letra dada para mim é essa..