O fogo cruzado entre aliados do Palácio do Planalto se intensificou nos últimos dias e atingiu clima insustentável entre o vice-presidente Hamilton Mourão e o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, e o seu guru intelectual, Olavo de Carvalho. Em menos de 24 horas, o filho de Jair Bolsonaro disparou cinco vezes contra Mourão nas redes sociais e foi acompanhado por Olavo e por seu irmão, o deputado Eduardo Bolsonaro.
O filósofo e mentor da família Bolsonaro manteve as duras críticas a Mourão e foi além: atacou lideranças do Exército, citando uma condenação de militares por desvios de recursos públicos.
Carlos Bolsonaro – que no início do ano entrou em uma troca de acusações com Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-geral do governo – deixou de lado as indiretas contra o vice-presidente e passou a fazer ataques diretos ao general. Segundo ele, ficou claro que o vice atua contra o presidente da República.
Na sua última publicação nas redes sociais, por volta das 19h desta terça-feira, Carlos relembrou uma entrevista do vice-presidente, em setembro do ano passado, ainda enquanto estava em campanha política com Jair Bolsonaro. Na ocasião, Mourão criticou a “vitimização” do então candidato a presidente após sofrer uma facada enquanto participava de um ato em Juiz de Fora, na Região da Zona da Mata.
Àquela altura, Jair Bolsonaro vinha gravando vídeos na cama do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
"Esse troço já deu o que tinha que dar. É uma exposição que eu julgo que já cumpriu sua tarefa. Ele [Bolsonaro] vai gravar vídeo do hospital, mas não naquela situação, não propaganda. Vamos acabar com a vitimização, chega", afirmou Mourão na época.
Em sua publicação, o “02”, como Carlos é chamado pelo pai, chamou o vice-presidente de “queridinho da imprensa”.
Naquele fatídico dia em que meu pai foi esfaqueado por ex-integrante do PSOL e o tal de Mourão em uma de suas falas disse que aquilo tudo era vitimização. Enquanto um homem lutava pela vida e tentava impedir que o Brasil caísse nas garras do PT, queridinhos da imprensa opinavam: pic.twitter.com/mAPVVvKAiR
%u2014 Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 23 de abril de 2019
Pela manhã, o filho de Bolsonaro traduziu um convite para uma palestra nos Estados Unidos em que Mourão é chamado de “voz da razão e moderação” em um governo marcado por “100 dias de paralisia política, em grande parte devido às crises sucessivas geradas pelo próprio círculo interno do presidente”. “Se não visse, não acreditaria que aceitou com tais termos”, diz Carlos no Twitter e no Facebook, supondo que o general teria consentido com sua descrição no convite que está disponível no site da Wilson Center, entidade que promove o evento.
“Já que desta vez não se trata de curtida, vamos ver como alguns irão reclamar”, escreveu Carlos Bolsonaro, em referência ao “like” de Mourão a uma publicação de uma jornalista que criticou Bolsonaro e fez elogios ao vice. A atitude do general despertou insatisfação de parlamentares apoiadores do presidente na Câmara e o deputado Marco Feliciano (Pode) protocolou um pedido de impeachment contra Mourão.
Carlos é apontado por Bolsonaro como principal responsável por sua campanha nas redes sociais e afirmou em entrevista que o filho era o responsável por suas vitórias eleitorais. Já o vice Hamilton Mourão é o principal articulador do governo com as forças militares e tem também bom trânsito com empresários e políticos.
Para tentar acalmar os ânimos entre pessoas próximas do Planalto, o presidente fez leve crítica às declarações polêmicas de Olavo de Carvalho. Por meio de nota, o presidente avaliou que as falas ácidas do filósofo contra Mourão não contribuem para os esforços do governo. No entanto, Bolsonaro não incluiu seu filho Carlos na crítica a Olavo, o que desagradou o núcleo militar do governo.
Mais lenha na fogueira
Nesta terça-feira, o escritor Olavo de Carvalho voltou a usar suas redes sociais para atacar Mourão e lideranças do Exército. Olavo compartilhou diversas páginas de notícias citando o vice-presidente: “Mourão elogia Chico Mendes”, “Presidente da CUT se reúne com Mourão e critica reforma da Previdência”, “Mourão critica 'despetização' de Onyx”, “Mourão curte postagem crítica a Bolsonaro”, entre outras notícias com o militar.
O filósofo, que é apontado como uma dos principais influenciadores do governo Jair Bolsonaro e de seus filhos – inclusive tendo indicado ministros de Estado –, divulgou também uma notícia sobre oficiais do Exército condenados por desvio de verbas públicas com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Justiça Militar condenou cinco oficiais do Exército e dois empresários por crime de peculato, acusados de irregularidades em 88 processos licitatórios firmados entre o Dnit e o Instituto Militar de Engenharia. A suspeita é de desvios de R$ 11 milhões.
Na segunda-feira o general Hamilton Mourão rebateu uma das críticas de Olavo de Carvalho e afirmou que ele deveria se limitar à função de “astrólogo”. O vice-presidente disse ainda que o filósofo tem “total desconhecimento sobre o ensino militar no Brasil”.
*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa
"Quando um não quer, dois não brigam"
Após ser questionado por jornalistas após receber as críticas o vice-presidente, general Hmailton Mourão disse: "Eu sei de todas as angústias, as perguntas que vocês (jornalistas) querem fazer. É o seguinte: calma, todo mundo emite sua opinião, tal e coisa. Então, a minha mãe sempre dizia uma coisa, quando um não quer dois não brigam. Vamos manter a calma."*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa