O governo comemora a vitória da aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara — o presidente Jair Bolsonaro, inclusive, agradeceu a Rodrigo Maia, presidente da Câmara, pelo empenho, em rede nacional. Porém, a admissibilidade do texto é apenas a ponta do iceberg da articulação política.
Os líderes partidários alertam: a interlocução na Comissão Especial exigirá um diálogo completamente diferente do que foi feito até o momento. Os mais insatisfeitos com o Planalto argumentam que, na verdade, a articulação deve ter início com a reforma na “casa” e mexendo nas próprias lideranças responsáveis pelo contato com o Parlamento.
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Dados sigilosos da reforma da Previdência serão liberados nesta quintaDesafio do Planalto é evitar mudança na PEC da Previdência em nova comissãoEm pronunciamento, Bolsonaro agradece deputados que aprovaram PEC da previdência na CCJBolsonaro põe limite para negociar reforma da PrevidênciaEconomia fiscal da PEC da reforma sobe a R$ 1,236 tri em 10 anos, diz ministérioOs novatos teriam, em tese, cargos para negociar com o governo. A conversa sobre postos vinha sendo feita pelos coordenadores de bancadas nos estados com a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).
Sem mudar a articulação, o discurso propagado por lideranças, sobretudo do Centrão, é de que o governo sofrerá derrotas mais duras na Comissão Especial do que na CCJ. Há quem diga que, sem mudanças na articulação, o texto será aprovado, mas bem alterado. Outros bancam que a reforma sequer passa no colegiado. “Se já foi esse parto todo para aprovar a admissibilidade, imagina discutir o mérito”, comentou um líder partidário.
Pressão
A atual tendência aponta para a evolução da cobrança, até com mudanças na articulação, como a saída do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e até na liderança do governo na Câmara, representada pelo deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), e no Congresso, sob a tutela de Hasselmann. O pedido de mudanças ecoa até mesmo no PSL, partido de Bolsonaro, que acumula a passos largos um movimento de dissidentes, deputados dispostos a migrar para outros partidos.
O governo está ciente das pressões e tenta ajustar o diálogo. A Secretaria de Comunicação (Secom) trabalha em uma nova publicidade para divulgar a reforma da Previdência à sociedade, de modo a evitar o desgaste junto aos parlamentares. A Casa Civil articula com o Ministério da Economia a injeção de recursos para atender a antecipação de emendas a deputados novatos. E Bolsonaro adotou um tom de afago ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o grande articulador da aprovação do texto na CCJ. “Agradeço o empenho e o trabalho da maioria dos integrantes da comissão (CCJ) e também o comprometimento do presidente Rodrigo Maia”, disse, ontem, em pronunciamento em cadeia nacional.
Em defesa da reforma, Bolsonaro disse que, se nada for feito, o país não terá recursos para garantir uma aposentadoria para todos os brasileiros e não vai dispor de condições para investir em áreas importantes para as famílias, como saúde, educação e segurança. Cobrou, no entanto, “espírito patriótico” dos parlamentares. O recado que será dado na Comissão Especial, entretanto, é de que só patriotismo não dialoga com as bases eleitorais..