O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), avaliou nesta quinta-feira, 25, que o "momento de descrédito" do Tribunal está relacionado à percepção da sociedade de que os ministros por vezes protegem uma "elite corrupta". Em palestra na Universidade de Columbia, em Nova York, Barroso sugeriu que isso é fruto de decisões tomadas pelo próprio tribunal e listou seis situações que, segundo ele, não tornam difícil entender "por que a sociedade se sente desta forma".
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"A questão que me é feita várias vezes é por que a Suprema Corte está sob ataque, por que está sofrendo esse momento de descrédito. Bem, o que acho que está acontecendo é que uma grande parte da sociedade brasileira e da imprensa percebe a Suprema Corte como um obstáculo à luta contra corrupção no Brasil. Sentem que a Corte por vezes protege a elite corrupta", disse Barroso. O ministro tirou o celular do bolso para ler a "lista" do que elencou como seis "fatos" que geram o sentimento na sociedade.
"São fatos e não minha opinião", disse o ministro, ao ler os pontos listados, que são todos considerados derrotas impostas pelo tribunal à Operação Lava Jato. Barroso tem sido, dentro da Corte, um defensor da investigação e afirma que um "pacto oligárquico" deve ser substituído por um "pacto de integridade" no Brasil. Ainda segundo ele, a sociedade tem a percepção de que "alguns ministros demonstram mais raiva dos promotores e juízes que estão fazendo um bom trabalho do que dos criminosos que saquearam o país".
Entraram na lista do ministro a decisão do STF de enviar à Justiça Eleitoral casos de corrupção e lavagem relacionados à caixa dois de campanha eleitoral e a restrição à condução coercitiva "quando os corruptos foram atingidos". "Tudo o que a Corte (STF) poderia remover da Justiça Criminal de Curitiba, cuja persecução de corrupção estava indo bem, foi feito", citou também o ministro.
Outro ponto, segundo Barroso, é o fato de parte dos ministros não cumprir a decisão do plenário de determinar a execução da pena após a confirmação da condenação em tribunal de segundo grau.
Desde a intensificação das prisões da Lava Jato, os desdobramentos de investigações de corrupção têm dividido o Supremo. Nos julgamentos, Barroso costuma ser porta-voz de parte do Tribunal considerado mais rigoroso com os criminosos de colarinho branco e protagonizou, por isso, discussões com outros integrantes do STF.
Ao falar sobre as investigações, o ministro disse que é preciso ter cuidado para não criminalizar a política. "Mas, ao mesmo tempo, não podemos glamourizar o crime. Devemos chamar as coisas pelos seus próprios nomes", disse..