Fragmentada desde a eleição presidencial do ano passado, a oposição quer transformar a celebração do Dia do Trabalho, nesta quarta-feira, no Vale do Anhangabaú, na primeira manifestação significativa contra o governo Jair Bolsonaro. Pela primeira vez, todas as dez centrais sindicais brasileiras vão celebrar juntas o 1.º de Maio em São Paulo. No Palácio do Planalto, a avaliação é de que o ato não tem potencial para causar desgastes ao governo ou estimular a oposição.
O palanque do evento deverá reunir três dos principais candidatos de esquerda na eleição do ano passado. Fernando Haddad (PT) - que disputou e perdeu o segundo turno contra Bolsonaro -, Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) confirmaram presença. Ciro, porém, depende de condições de saúde para participar do ato. O pedetista virou alvo do PT após recusar dar apoio explícito a Haddad na fase decisiva da disputa presidencial. No Congresso, as siglas de esquerda ainda não conseguiram formar uma unidade de atuação.
Apesar das divergências no campo político, os organizadores acreditam que o evento conjunto pode ser o ponto de partida para uma série de manifestações contra medidas do governo, tendo como vetor a reforma da Previdência.
"Sempre foi um sonho nosso (o ato unificado). Por mais divergência que a gente possa ter, a conjuntura nacional nos levou a este momento histórico", disse o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.
Os organizadores admitem que essas divergências podem vir à tona durante o evento, a exemplo do que aconteceu no ano passado, quando CUT e Força Sindical fizeram um ato conjunto em Curitiba, em protesto contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Representantes da CUT vaiaram os discursos de dirigentes da Força.
As centrais e os partidos às quais estão ligadas estão longe de ter posições conjuntas sobre a reforma da Previdência. "Os partidos andam conversando muito, mas têm diferenças. PT, PSB e PSOL fecharam questão contra a reforma. Outros, não", disse Antonio Neto, presidente da Central de Sindicatos Brasileiros (CSB), candidato derrotado ao Senado pelo PDT de São Paulo.
A reforma trabalhista do governo Michel Temer que eliminou o chamado imposto sindical também será alvo de críticas. Segundo os organizadores, existe um plano para eliminar o movimento sindical brasileiro.
Além de CUT, Força, CSB e Intersindical, CTB, UGT, CGTB, Nova Central e CSP-Conlutas participam da organização em conjunto com as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular.
O ato no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista, terá shows de vários artistas, mas sem sorteios de brindes - o que marcava as manifestações do 1.º de Maio da Força Sindical. Além dos políticos de esquerda, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), confirmou presença no evento.
Pronunciamento
O governo não preparou nenhuma solenidade alusiva ao Dia do Trabalho. O presidente Jair Bolsonaro gravaria ainda na terça-feira, 30, um pronunciamento que irá ao ar nesta quarta, às 20h, em cadeia de rádio e TV. Ele deverá relatar esforços do governo para reverter as taxas de desemprego do País.
Integrantes do Planalto ouvidos nesta terça pelo jornal O Estado de S. Paulo minimizaram o ato conjunto das centrais sindicais. O governo, contudo, está se preparando para mobilizações em junho, que deve ser um mês decisivo para aprovação da reforma da Previdência.
As centrais enfrentam escassez de recursos para bancar festas grandiosas desde o fim da contribuição sindical obrigatória na reforma trabalhista, em 2017. Desde então, o desconto de um dia de trabalho por ano em favor do sindicato da categoria passou a ser opcional. A decisão do Congresso foi confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal em meados do ano passado.
Além do protesto em São Paulo, o governo federal foi informado de que uma manifestação está sendo preparada para ser realizada em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..