Jornal Estado de Minas

Entenda a briga entre olavistas e militares no governo Bolsonaro


O presidente Jair Bolsonaro teve de ir a público ontem para pôr panos quentes outra vez em novo fogo amigo entre aliados. Novamente, o pivô foi o escritor Olavo de Carvalho, guru do presidente. No fim de semana, ele atacou o general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, afirmando que ele “fofoca e difama pelas costas”. Santos Cruz, por sua vez, classificou o ideólogo de “desocupado esquizofrênico”.

Nessa segunda-feira, o general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, saiu em defesa do colega de patente classificando Carvalho de “Trótski de direita”, em referência a um dos líderes da Revolução Russa. Bolsonaro minimizou: “Não existe grupo de militares nem grupo de olavos aqui. Tudo é um time só”.

Para colocar mais pólvora na fogueira, o general Villas Bôas entrou na briga virtual ontem e divulgou nota nas redes sociais com críticas a Olavo de Carvalho. Para ele, o guru de Bolsonaro adota posturas que não contribuem para a unidade da sociedade, pelo contrário, desestabilizam o governo: “Mais uma vez, o sr.
Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de mínimo de humildade e modéstia”.

E ressalta que as palavras do escritor não acrescentam nada. “Verdadeiro Trótski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros”.

Para Villas Bôas, Carvalho “age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país. A escolha dos militares como alvo é compreensível por sua impotência diante da solidez dessas instituições e a incapacidade de compreender os valores e princípios que as sustentam”, destacou.

Olavo de Carvalho tem feito duras críticas aos militares que integram o governo. Na sexta-feira, ele usou o Twitter chamando os militares de mão de obra ociosa” e que não são “santos heróis da pátria que eles mesmos pintam”. No sábado, comparou Santos Cruz a Ciro Gomes (PDT), candidato derrotado à Presidência, e disse que ele “fofoca e difama pelas costas”. O ministro retrucou e, em entrevista, chamou Olavo de “desocupado esquizofrênico”.
No Twitter, Carvalho fez sequência de comentários sobre o militar. “O Santos Cruz quer que a segurança pública esteja às ordens de organizações notoriamente esquerdistas”, escreveu no domingo. “Santos Cruz não é capaz de imaginar o que seja um escritor. Só conhece politiqueiros e fofoqueiros de m.... como ele mesmo”, continuou ontem.

Pairam sob Carvalho insinuações de que ele age arquitetado com Carlos Bolsonaro, para que o filho do presidente assuma a comunicação do governo, atualmente sob a jurisdição de Santos Cruz. Caberia ao escritor o papel de assumir à linha de frente das críticas ao ministro. O que ele nega: “Não sou agente político, sou escritor e professor. Não quero tirar o Santos Cruz da p....
de ministério que ele ocupa. Quero apenas despertar sua inteligência e seu senso moral para que ele corrija o imenso mal que está fazendo. Fique com o cargo, mas tome jeito”.

Sobre as críticas mais recentes, feitas por Villas Bôas, Carvalho disse que responderá, mas fez mistério sobre quando isso deve ocorrer. “Responderei ao general Villas-Boas no devido tempo. Não há pressa”, postou. Bolsonaro tem boa relação com Villas Bôas. Após deixar o comando do Exército, o general virou consultor do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, órgão comandado pelo general Augusto Heleno. Em janeiro, o presidente recém-empossado disse que Villas Boas era “um dos responsáveis” por sua eleição. Já Villas Bôas diz que Bolsonaro resgatou Brasil da “amarra ideológica”.

‘MILITARES ACOVARDADOS’


Em março, em outra série de críticas aos militares, Carvalho pediu que os alunos dele deixassem o governo. “O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles.
Não quero ver meus alunos tendo suas vidas destruídas no esforço vão de ajudar militares acovardados cujo maior sonho é ‘tucanizar’ o governo para agradar à mídia”.

No mesmo mês, Carvalho virou sua artilharia para o vice-presidente, general Hamilton Mourão. Disse que o vice-presidente era “um cara idiota” e criticou o que chamou de mudanças de postura no comportamento do general ao assumir papel no governo. Entre as acusações estariam posicionamentos “pró-aborto, pró-desarmamento e pró-Nicolás Madruro”. “O presidente viaja e qual a primeira coisa que ele faz? Viaja a São Paulo para um encontro político com João Doria. Esse cara não tem ideia do que é vice-presidência. Durante a viagem, ele tem que ficar em Brasília”, afirmou Olavo. Segundo ele, o presidente estaria de “mãos atadas”.

“Ele não reage porque aquele bando de milico que o cerca é tudo um bando de cagão, que tem medo da mídia”. Dias depois, Mourão, em jantar em São Paulo, mandou um recado ao escritor.
Da próxima vez que disser algo ofensivo contra sua pessoa, “terá que se haver com a Justiça”.

Ainda sobre Santos Cruz, em abril, o escritor afirmou que o ministro, como integrante das Forças Armadas, nunca fez nada contra a “hegemonia comunopetista”. “Nada, nunca. Ele ganhou seu emprego por meio de uma luta à qual não deu a menor contribuição. Esse homem não sabe de onde veio nem para onde vai”, afirmou. O clima de tensão levou o Clube Militar a divulgar nota de desagravo aos militares. O texto, assinado pelo coronel Sérgio Paulo Muniz Costa, faz duras críticas a Carvalho.  (Com agências)

 

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