O “tsunami” que pode atingir o governo esta semana, sugerido na sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, tem o próprio comandante do país como causa original. A analogia usada pelo chefe do Palácio do Planalto é consequência de suas equivocadas decisões ao longo do curto mandato.
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Quando Bolsonaro começou a receber presidentes e líderes partidários, em 4 de abril, e acenou que o importante é a “boa política”, alguns congressistas acreditaram que, enfim, ele mudaria o diálogo. Imaginaram que o governo, por meio da Casa Civil, finalmente abriria as negociações por cargos nos estados, inserindo apadrinhados em superintendências estaduais e regionais da administração pública indireta nas unidades da Federação.
O resultado disso foi decepcionante para parlamentares dispostos a compor uma base governista. Para a maioria, os diálogos por cargos não fluem. Sem as indicações, deputados e senadores ficam enfraquecidos em suas bases eleitorais, sobretudo os novatos, que, em 2019, não têm emendas impositivas a receber — recursos que o governo é obrigado a executar. Com as eleições municipais de 2020 no horizonte, é uma ameaça ao fortalecimento dos políticos nos estados.
A relação poderia ser diferente se Bolsonaro, pelo menos, viajasse o país. Mas nem isso, o presidente tem feito.
Embora em uma das agendas tenha ido ao estúdio do SBT, na capital paulista, para uma entrevista ao Programa do Sílvio Santos, que garante a ele uma exibição em escala nacional na TV aberta, parlamentares julgam que é muito pouco.
Um governo que tem como prioridade aprovar a reforma da Previdência não pode se dar ao luxo de, em quase três meses de mandato, percorrer apenas 13 municípios. Sobretudo em localidades onde Bolsonaro sagrou-se vencedor nas urnas, nas últimas eleições. Em ambos os turnos, o presidente foi vencedor nos estados de Santa Catarina, Paraná, Amapá, Rio de Janeiro e São Paulo, únicos visitados até o momento.
“O presidente está se preocupando mais em ‘pregar para convertidos’ do que em construir uma base social e parlamentar. Isso é perigoso”, alerta o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais.
Só para convertidos
Das 13 viagens feitas no país, Bolsonaro foi a sete solenidades militares e evangélicas. São dois grupos que se encontram na base do governo.
O entorno político de Bolsonaro diz que ele ainda tenta encontrar o melhor arranjo para as viagens. O presidente procura marcar presença em lugares que possibilitem a ele alguma entrega do governo ou participação em evento de início de algum programa governamental, como na sexta-feira, quando prestigiou o começo das operações do Centro Integrado de Inteligência e Segurança Pública da Região Sul.
Mas ele pode e deve buscar agendas diferentes, sobretudo para construir uma base para a aprovação da reforma da Previdência, recomenda o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO). “Qualquer reforma e plano de governo precisam do empenho do presidente em rodar o país, conversar com governadores, prefeitos e empresários”, destaca.
O sucesso da articulação com o Congresso está nos detalhes, até nos gestos mais simples. Resta a Bolsonaro ouvir melhor seus conselheiros.
Um assessor palaciano afirma, contudo, que ele cumprirá apenas a agenda prevista para o dia 24, onde comandará, com a presença dos nove governadores da região, a reunião do Conselho Deliberativo (Condel) da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que votará o Plano Regional de Desenvolvimento (PRDNE)