Para evitar aumentar o desgaste entre o Palácio do Planalto e os poderes Legislativo e Judiciário, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que programam fazer uma manifestação amanhã na Praça da Liberdade querem focar em pautas específicas, como a aprovação da reforma da Previdência e do pacote anticrime do ministro Sergio Moro. O evento, marcado para 10 horas, foi motivo de divergência entre grupos conservadores que até alguns meses atrás estavam unidos, mas que passaram a trocar acusações nas últimas semanas.
Em Belo Horizonte, nas redes sociais do grupo Direita Minas, cerca de 1,8 mil pessoas combinaram de participar do ato em apoio ao presidente Bolsonaro. No entanto, alguns posicionamentos de apoiadores considerados mais radicais, como o pedido de fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), estão sendo criticados pelos organizadores e deputados do PSL que confirmaram a presença.
“A manifestação tem pauta definida e bem clara. É, primeiro, apoio ao pacote anticrime do ministro Moro. Segundo, apoio pela aprovação da reforma da Previdência. E, terceiro, apoio à criação da CPI da Lava Toga”, explica o deputado Coronel Sandro (PSL). O parlamentar avalia que manifestantes que adotarem uma postura mais agressiva e de ataque aos outros poderes não representam a pauta dos apoiadores de Bolsonaro.
A criação de uma comissão parlamentar para investigar os juízes e ministros de tribunais superiores, chamada CPI da Lava Toga, é motivo de desentendimento entre o Planalto e congressistas que apoiam Bolsonaro. O governo tenta amenizar os conflitos com o Judiciário e não declarou apoio à criação da comissão, mas deputados e senadores aliados cobram a abertura da CPI como forma de investigar supostas atuações políticas e ilegais de magistrados.
O presidente Bolsonaro usou suas redes sociais para defender as manifestações marcadas para amanhã, mas anunciou que não participará dos atos e que não concorda com pautas radicais adotadas por alguns grupos. “Quem estiver com essa pauta (fechamento do Supremo e Congresso), estará na manifestação errada. Não fará bem ao Brasil”, disse o presidente na quinta-feira.
Para Coronel Sandro, o fato de o presidente não participar das manifestações é compreensível, uma vez que as convocações não partiram do partido ou do Planalto. “Quem está organizando esse movimento é o povo e não um partido ou o governo. É um movimento de apoio ao presidente que foi eleito democraticamente e em defesa das propostas que foram aprovadas nas urnas no ano passado. As pessoas têm o direito de ir às ruas pacificamente”, diz o deputado.
Em algumas redes sociais em que os manifestantes se organizam para o ato de apoio a Bolsonaro o principal alvo das críticas é o grupo suprapartidário do Centrão, que reúne DEM, PSD, PR, PP, PTB, Pros, SD e PRB. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM), era um dos mais criticados e considerado por apoiadores de Bolsonaro como um dos responsáveis por chantagear o Planalto. Entre as lideranças do governo, no entanto, a tentativa é de minimizar os atritos com a bancada parlamentar, uma vez que os votos do Centrão podem ser decisivos para aprovação ou rejeição de matérias.
“O presidente foi eleito para governar. Infelizmente vemos que o Centrão e parte do Congresso querem que ele ceda às pressões. Querem a volta do toma-lá-dá-cá. Mas Bolsonaro não vai ceder. Vamos para a rua demonstrar nosso apoio”, diz o deputado Bruno Engler (PSL). O parlamentar afirma que as bandeiras de fechamento do Supremo e do Congresso foram tentativas de opositores para desestabilizar o movimento. “Nossas pautas estão definidas. Claro que podemos criticar o Rodrigo Maia, por exemplo, se ele estiver fazendo coisas que não concordamos. É natural que aconteçam críticas. Mas fechamento do Congresso não é nossa bandeira”, afirma.