Em 26 de maio de 2018, ápice da greve dos caminhoneiros que paralisou o país, o Brasil viveu um dia que não terminou, trazendo consequências econômicas e políticas sentidas até hoje. O Ministério da Fazenda estimou, na época, impacto de R$ 15,9 bilhões na economia. O grupo também foi um dos principais apoiadores para a eleição do então candidato Jair Bolsonaro (PSL), que, já presidente, pressionado pela categoria, interveio no preço do diesel, em abril, e anunciou na semana passada a criação de cartão especial para livrar a classe da variação do combustível. Mas, para quem está na estrada, um ano depois, a impressão é de que as conquistas do movimento surtiram pouco efeito.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informa que houve cerca de 3,5 mil autos de infração referentes à tabela de frete desde sua entrada em vigor, em 30 de maio de 2018. A Resolução 5.820 da agência estabeleceu pisos mínimos por quilômetro rodado. Uma nova resolução será publicada em julho. Ao longo de abril e maio, a ANTT promoveu audiências públicas para ouvir caminhoneiros, transportadores e agentes do setor de logística e transporte.
Neto defende uma fiscalização maior e a correção dos preços da tabela de acordo com o preço do diesel. A última alteração dos valores ocorreu em abril, já que a orientação é que a revisão ocorra somente quando a oscilação do combustível superar os 10%.
O diretor da Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetsemg), Domingos de Castro, afirma que a crise do setor piorou, por causa da paralisia econômica do país. “É necessário que o país movimente a economia, que aumente a produtividade para poder transportar”, afirma. Na avaliação de Domingos, a possibilidade de greve é remota. “Está todo mundo parado, como que vai parar mais?”, diz.
No ano passado, um dos motivos que levaram a paralisação a ganhar corpo foi a adesão das transportadoras ao movimento. Domingos também cobra o cumprimento da tabela de frete. “Há empresas que não cumprem a tabela da ANTT. Gente que, do Nordeste para cá, só paga o óleo diesel de retorno”, afirma. Segundo o diretor, houve uma evasão de 30% de caminhoneiros, que têm optado por trabalhar em outros segmentos.
A impressão de quem está na direção, entretanto, é oposta e que, após a tabela, houve o aumento da concorrência. “Aumentou muito o número de caminhão na estrada”, afirma Neto. Os dados da ANTT, no entanto, não apontam mudança significativa na frota nem no número de profissionais registrados. No último ano, os registros passaram de 671 mil para 683 mil – 1,7% de aumento –, enquanto a frota cresceu 1,4%, passando de 1,86 milhão de veículos para 1,88 milhão.
ELEIÇÃO Desde a greve dos caminhoneiros, muita coisa mudou para o deputado federal André Janones (Avante-MG), a começar pelo fato de ele ter conquistado um mandato. Embora não seja caminhoneiro, o advogado Janones acabou assumindo a liderança entre profissionais autônomos durante a paralisação, o que rendeu apoio para a eleição no ano passado. Mas ele reconhece que, para os caminhoneiros, as mudanças foram poucas.
“O diesel continua subindo e o frete mínimo não é cumprido. Acredito que os caminhoneiros foram enganados”, afirma Janones, que considera faltar centralização das decisões da categoria. “A greve mostrou a força que o brasileiro tem, mas não existe um comando único dos caminhoneiros. São centenas de grupos mobilizados”, ressalta. O deputado defende a redução dos pedágios, o cumprimento da tabela de frete e a manutenção do preço do diesel.