Brasília – O movimento do DEM de dissociar-se do Centrão vai impor dificuldades na articulação do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Lideranças do partido afirmam que a meta é se desvincular de uma imagem pejorativa associada ao fisiologismo político, e que a legenda vai apoiar as agendas reformistas do governo, mas não o Palácio do Planalto. O problema será o convencimento disso. Partidos de centro-direita desconfiam que os demistas vão se alinhar ao Executivo e deixar para eles o desgaste de defender projetos, propostas e emendas de interesse conjunto do espectro político, ainda que minimamente divergentes do governo.
Afinal, quando o DEM permaneceu no bloco vencedor das eleições na Câmara – que chegou a ser formado por outros partidos, como PSL, PSD, PSDB, PSC e PMN – PP, PL e PRB votaram alinhados em 27 oportunidades e em 29 orientações da liderança governista em sessões plenárias, entre 12 de fevereiro e 2 de abril. Com as três legendas reforçando a imagem de centro-direita, o resultado prático será a definitiva implosão do Centrão, em um processo que deve isolar o Solidariedade.
Maia terá que se movimentar e trabalhar mais o diálogo em decorrência da aparente divisão. PP, PL e PRB vão observar com lupa os movimentos do DEM, sobretudo depois de o presidente da Câmara ter comparecido à convenção nacional do PSDB, na sexta-feira, e defender um “projeto único” com a legenda para 2022. “Ou Bolsonaro vai para o Democratas, como diz sonhar o Onyx (Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil), ou o partido vai encabeçar um projeto de política nacional com os tucanos”, ponderou um deputado influente do Centrão.
Como a possibilidade de Bolsonaro se filiar ao DEM é considerada remota, a desconfiança maior é que o Democratas dê as costas e fique com o governo. Lideranças do partido negam. O líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), disse, durante a convenção do partido, na quinta-feira, que a primeira eleição de Maia, em 2017, implodiu um Centrão fisiológico, então capitaneado pelo ex-deputado Eduardo Cunha (RJ). No entanto, a maneira como a legenda se posicionou no evento gerou incertezas sobre o futuro harmonioso entre as bancadas.
O líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), contemporiza os movimentos do DEM. A leitura dele é de que a “implosão do Centrão” é uma maquiagem política, ao associar uma situação passada com o termo usado no presente. “Interpreto como uma desvinculação de um termo pejorativo. Nesse sentido, nós também estamos nos desvinculando desse caminho”, pondera.
Uma outra liderança influente do bloco informal tem uma interpretação. Para o parlamentar, a comunicação feita pelo DEM durante a convenção soa como a prova de que o partido teria conseguido tudo o que, supostamente, tenha exigido do governo. “E agora Maia simplesmente abandona todos os partidos que lhe deram sustentação política para conseguir todas benesses do Executivo. Depois de conseguir o que queria, simplesmente dá uma ‘banana’ para os parceiros de trincheira e tenta se apresentar para a galera como bom menino. Nunca vi a dissimulação e a traição prosperar no Parlamento brasileiro”, critica.