Brasília – Regulamentadas desde 2005, as frentes parlamentares não param de crescer. Em 2019, até a data de publicação desta reportagem, 169 haviam sido instaladas com os mais diversos temas.
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Frente parlamentar da saúde referenda Mandetta, diz deputada Cármen ZanottoFrente Parlamentar da Agricultura quer indicar nomes para ministérioCampanha de Bolsonaro comemora apoio da Frente Parlamentar da AgropecuáriaEspecialistas avaliam que, apesar da quantidade de grupos de debates, a atuação efetiva e o poder institucional deles ainda é baixo. Parlamentares observam o crescimento, mas defendem as frentes como um local para o debate intensificado de um assunto mais específico.
Para o professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) Arnaldo Mauerberg Junior, os números, de fato, chamam a atenção. “A gente nota uma certa discrepância desde a legislação passada, na qual vemos um número alto, de 344 frentes de 2015 a 2019. Este ano, porém, até o início de maio, já tínhamos 137”, observa. Mauerberg acredita que a nova composição da Câmara e a renovação de deputados podem ter relação com o número elevado.
“Com a nova composição do Congresso, temos uma renovação grande de parlamentares que entram querendo mostrar serviço.
Sérgio Praça, cientista político da FGV, concorda com Mauerberg. “São números muito altos, que fazem crer que as frentes parlamentares não têm importância”, analisa. Sérgio acredita que é uma maneira de sinalizar preocupações, mas faz o alerta para o concreto poder das frentes.
“São poucas que conseguem vetar assuntos e matérias, como a ruralista e a evangélica, por exemplo”, considera. Mauerberg explica que o poder das maiorias é baixo porque a mudança da legislação ainda depende do relacionamento dos deputados com as lideranças partidárias e com os presidentes e vice-presidentes das comissões da Casa.
A negociação com o Congresso por meio das frentes foi defendida por Bolsonaro desde a campanha presidencial.
Opinião interna
A deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania-SC) é presidente da Frente Parlamentar da Saúde e confirma que o número de grupos foi ampliado, mas explica que o resultado prático depende do nível de atuação de cada um.
“Não tem poder deliberativo porque não tem estrutura de apoio técnico, de secretariado, como ocorre com uma comissão da Casa, mas a frente tem o papel de agregar um coletivo de deputados em torno de um tema”, avalia.
As discussões vão desde de temas mais amplos, como saúde e segurança pública, a assuntos específicos, como a conclusão da BR-470, o apoio ao potássio brasileiro ou o homeschooling. É possível observar ainda o mesmo tema sendo debatido por dois grupos de parlamentares. É o caso da saúde e dos direitos dos animais.
O deputado federal Bibo Nunes, vice-líder do PSL e presidente de Frente Parlamentar da Prevenção e Combate ao Câncer Infantil, acredita que o alto número pode desmoralizar os grupos. “Acho esse número um absurdo.
Bibo sugere que a quantidade de assinaturas para a criação de uma frente seja maior. “Tudo o que é demais fica saturado e gera um descrédito. Tem que haver mais assinatura para valer uma frente”, propõe. Carmem defende que seja feita uma revisão da resolução dos grupos, para que eles sejam aprimorados. “Como já faz todo esse tempo que elas foram regulamentadas, acho que cabe a gente discutir a melhoria dessa resolução”, afirma.
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