As conversas que vieram a público entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, o procurador Deltan Dallagol e outros integrantes da força-tarefa da Lava-Jato no Paraná dividem a opinião de candidatos ao cargo de procurador-geral da República ouvidos pelo Estado de Minas. Enquanto alguns avaliam a conversa como dentro da normalidade, para outros postulantes fica evidenciada a parcialidade tanto do ex-juiz quanto dos integrantes do Ministério Público.
Em Brasília, nos bastidores do poder, deputados, senadores, integrantes do Executivo e procuradores cancelaram compromissos para acompanhar a evolução do caso. Nos trechos divulgados, Moro sugere testemunha para o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e indica troca nas fases da Lava-Jato.
Além disso, procuradores comemoram decisão judicial que proibiu Lula de dar entrevista e fazem críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Deltan chega a dizer que não tem certeza das provas apresentadas contra Lula, apenas três dias antes de fazer a denúncia que levaria o petista para a cadeia.
O subprocurador-geral da República, José Robalinho, que até este ano foi presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) diz que até o momento não vê condutas que gerariam a suspeição dos envolvidos.
"O MPF não tem nada a esconder. A reação foi a mais correta possível. É perfeitamente compreensível que em um grupo de colegas ocorram conversas sobre o trabalho cotidiano. Eles não falam como autoridades, mas sim como conhecidos. De qualquer forma, a força-tarefa veio a público e se disse disposta a esclarecer qualquer assunto. Essa postura foi a mais correta possível", disse.
Para Robalinho, talvez o diálogo tenha ultrapassado limites em alguns momentos. Ele critica o vazamento e a forma como as informações vieram a tona.
"A imprensa tem o direito de publicar, pois teve acesso ao conteúdo. Mas é bom deixar claro que foi obtido de maneira criminosa. A conversa entre o Moro e o Deltan era privada. Mas é preciso analisar com calma, se algum limite foi ultrapassado. Não acho que tenha ali nada que aponte suspeição do juiz", disse.
O subprocurador Paulo Bueno tem uma opinião divergente. Para ele, o conteúdo revelado, se confirmado, deixa claro uma atuação parcial por parte do ministro Moro, do procurador Dallagnol e outros envolvidos.
"Se confirmadas as conversas, ficará evidenciada a parcialidade do julgador e do procurador que atuou no caso. Embora haja uma discussão doutrinária, entendo que também o MP deve ser imparcial, posto que a função primordial do MP é a defesa da ordem jurídica", disse.
O subprocurador José Bonifácio, diz que não tem desconfianças sobre o trabalho dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato e compartilha com o posicionamento do MPF do Paraná. "Pessoalmente, tenho plena convicção no trabalho dessas equipes", declarou.