Jornal Estado de Minas

Após críticas de Guedes, deputados intensificam discurso de independência


As críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao parecer da reforma da Previdência apresentado pelo relator, Samuel Moreira (PSDB-SP), não prejudicam o andamento da matéria na Câmara. Pelo contrário, favorecem o entendimento que predomina entre os parlamentares desde o início da tramitação: a pauta não é do Executivo, mas do Legislativo. Os deputados não disputam com o governo a paternidade da reforma, “eles já assumiram o filho".

Com as reclamações sobre as mudanças feitas no texto, Guedes, na verdade, ajudou a consolidar esse entendimento, comentam deputados. Na visão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), “às vezes, tem crises ou críticas que vêm para o bem”, e a última sexta-feira, quando o ministro disse que a reforma foi “abortada” com as concessões feitas pelo relator, foi uma dessas vezes. “Acho que fortaleceu a nossa posição e nossa certeza de que Câmara e Senado podem ter um papel de protagonista neste momento”, comentou, ontem, após evento da rádio BandNews, em São Paulo.

“A fala dele (Guedes) uniu o Parlamento e nos deu chance de estar mais próximos dos governadores e prefeitos”, disse Maia. Após a retirada dos estados e municípios da proposta, a conversa com os chefes dos Executivos regionais tem sido intensificada, na busca de votos para a aprovação da matéria. Caso os governadores e prefeitos garantam uma boa margem de apoio no plenário, poderão ser reincluídos no projeto.

Blindado


O presidente da Câmara voltou a garantir que a pauta não será impactada pelas crises no Executivo e reforçou que a expectativa é de votar o relatório até 26 de junho na Comissão Especial.
Os atritos com o governo não devem impedi-lo de pautar a matéria no plenário em julho, antes do recesso parlamentar, que começa oficialmente em 18 de julho. Depois, o foco será a reforma tributária, afirmou.

Os parlamentares reforçam, desde o início da tramitação, que a atuação de Maia tem sido decisiva para o andamento da matéria. Já o empenho do governo, na articulação e no convencimento, é considerado fraco. Por isso, o Congresso assumiu a reforma. O entendimento ficou ainda mais claro com as mudanças feitas no texto. Após conversas com líderes partidários, Moreira retirou pontos que o governo julgava essenciais, como a capitalização e a desconstitucionalização das regras previdenciárias. Essas alterações deixaram Guedes irritado, a ponto de dizer que a reforma havia sido “abortada”.

Uma das principais queixas do ministro é a falta de previsão, no atual texto, para que o Brasil migre para um regime capitalizado, o que caracterizaria a “Nova Previdência”.
Para Maia, o assunto não é o principal problema do país hoje. O tema pode ser retomado e há projetos, de autoria dos deputados, que podem ser discutidos depois. O presidente da Câmara também mencionou possíveis correções no texto do relator em relação aos trabalhadores do campo, que foram poupados da reforma. “Aposentados rurais correspondem a 9%, 10% da população, mas representam 35% dos gastos”, pontuou.

O presidente da Câmara já havia garantido, na última sexta-feira, logo após Guedes dizer que a reforma havia sido “abortada”, que a atuação do Parlamento está “blindada” dos ataques do governo. Na ocasião, o deputado definiu o Executivo como uma “usina de crises” e lamentou que as críticas, agora, viessem logo do ministro da Economia, um dos poucos que costumam dialogar com a Casa..