Uma campanha de financiamento coletivo foi lançada para captação de fundos com o objetivo de desapropriar e transformar a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), em Centro de Memória, Verdade e Justiça. O local será o primeiro aparelho clandestino a se tornar um lugar de memória do regime ditatorial no Brasil, informou o Ministério Público Federal (MPF) no Rio.
A meta da "vaquinha coletiva" é de, até dezembro, arrecadar cerca de R$ 1,5 milhão, valor estimado para desapropriação do imóvel e implementação do Centro de Memória.
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Procuradoria recorre contra 'Camarão' da Casa da MortePetrópolis desapropria Casa da MorteProcuradoria recomenda celeridade em tombamento da 'Casa da Morte' em PetrópolisA casa está localizada na Rua Arthur Barbosa, nº 50 (antigo 668-A), Caxambu, e foi utilizada como aparelho clandestino de tortura durante o período do regime militar. A casa foi localizada por Inês Etienne Romeu, única prisioneira política a sair viva do aparelho, conforme declarações prestadas ao Conselho Federal da OAB.
O imóvel foi emprestado ao Exército e, segundo o tenente-coronel reformado Paulo Malhães, em depoimento à Comissão da Verdade do Estado do Rio, o local "foi criado para pressionar os presos a mudarem de lado, tornando-se informantes infiltrados".
"Ali, pelo menos 18 pessoas foram assassinadas. Os corpos permanecem desaparecidos", informa a Procuradoria.
Além do depoimento de Inês Etienne Romeu, e de outros envolvidos, "os atos ilícitos de cárcere privado e de tortura praticados por servidores militares no período compreendido entre 5 de maio e 11 de agosto do ano de 1971, na Casa da Morte, foram reconhecidos por decisão judicial da 17ª Vara Federal Cível de São Paulo", segundo o processo nº 0027857-69.1999.4.03.6100.
Para apoiar a causa, a pedido da Procuradoria da República em Petrópolis, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão divulgou, por meio de ofício circular, a campanha às Procuradorias Regionais em todo o País, para que possam avaliar a possibilidade de destinação de recursos provenientes de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) ou acordos para captação de fundos.
A campanha é encabeçada pela entidade Grupo Pró-Memorial e se baseia na filosofia de "crowfunding", termo usado para se referir ao espírito de coletividade de apoio social a uma causa.
Até o momento, segundo a Assessoria de Comunicação Social da Procuradoria no Rio, o Grupo Pró-Memorial, que está aberto a novas adesões, possui a seguinte composição: Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/Universidade Cândido Mendes, Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis, Grupo Inês Etienne Romeu, além dos pesquisadores e ex-membros da Comissão Municipal da Verdade de Petrópolis, Eduardo Stotz, Rafane Paixão e Glauber Montes.
Para participar, basta fazer sua doação na seguinte conta bancária, aberta especificamente para a campanha:
Banco do Brasil
Agência: 2885-1
Conta: 32019-6 - C MEM CASA DA MORTE
CNPJ: 27.219.757/0001-27
CENTRO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS
A prestação de contas dos recursos da campanha será feita periodicamente pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) em sítio público ( www.cddh.org.br).
Destaca-se que o valor arrecadado será transferido diretamente ao atual proprietário do imóvel, observando-se o valor da indenização a ser estipulado em avaliação no âmbito do processo de desapropriação aberto pelo município de Petrópolis.
Procedimentos
Em dezembro de 2016, o Ministério Público Federal no Rio denunciou o caseiro do local que ficou conhecido como Casa da Morte. O ex-sargento do Exército Antonio Waneir Pinheiro Lima, o "Camarão", foi acusado pelos crimes de estupro e sequestro da militante política Inês Etienne Romeu em 1971.
Em agosto de 2018, a Procuradoria expediu recomendações ao prefeito e ao coordenador de Planejamento e Gestão Estratégica de Petrópolis para que fosse dada celeridade ao processo de tombamento da Casa da Morte para futura utilização como Centros de Memória e Verdade.
Os imóveis abarcados pelas recomendações foram utilizados, respectivamente, como centro de tortura e centro de inteligência na época do regime militar. A Procuradoria do Cidadão enviou ofício a todos os integrantes do Conselho de Tombamento para apoio ao pedido de tombamento.
Em janeiro de 2019, após recomendação do Ministério Público Federal, a prefeitura de Petrópolis publicou o decreto 649 que declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, o imóvel da Casa da Morte. O decreto foi publicado no Diário Oficial do Município em 30 de janeiro de 2019..