O ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou nesta quarta-feira a integrantes da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) do Senado, que se a opinião pública considerar a existência de irregularidade em sua atuação, ele deixa o Ministério da Justiça. Ele ainda disse que não tem receio do que possa vir a público. "Não estou com medo. Divulguem tudo de uma vez". A fala do ministro aos parlamentares durou oito horas e meia e durante todo o tempo ele negou a existência do conluio.
“Eu estou convicto da minha correção, das minhas decisões como juiz, e sei que se as minhas comunicações com quem quer que seja sejam divulgadas, sem adulteração e sem sensacionalismo, essa correção vai ser observada. Então eu tô absolutamente tranquilo quanto a isso”, afirmou.
Ainda de acordo com Moro, se ficar comprovada qualquer tipo de irregularidade ele deixa o quadro. “Eu não tenho nenhum apelo pelo cargo em si. Que se apresente tudo. Vamos submeter isso ao escrutínio público e se houver alguma irregularidade da minha parte eu saio, mas não houve. Porque eu sempre agi com base na lei e de forma imparcial e se forem divulgadas todas as minhas mensagens”, declarou.
Em outro momento, o ministro refutou a hipóteses da existência de conluio entre ele e o Dallagnol. “Foram mais ou menos 90 denúncias apresentadas pelo Ministério Público. Dessas 90 denúncias, 45 ações foram sentenciadas. O Ministério Público recorreu de 44 dessas 45 sentenças. Se falou muito em conluio. Aqui é um indicativo claro que não existe conluio nenhum, inclusive divergência”.
Cópias das supostas conversas mantidas por meio de um aplicativo de troca de mensagens por celular, o Telegram, foram entregues por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil, que, desde o dia 9 de junho, vem publicando reportagens com base nos diálogos atribuídos ao ministro e aos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, principalmente o coordenador dela, Deltan Dallagnol.
Ainda durante a audiência, o ministro ainda considerou “normais” conversas entre juízes, advogados e procuradores, como mostram as conversas atribuídas a ele e Dallagnol.
“São normais conversas entre juízes, procuradores, policiais e entre advogados. A questão do [uso do] aplicativo [Telegram] foi apenas [para possibilitar] uma troca de mensagens mais rápida – se é que estas mensagens são de todo autênticas”, declarou Moro, negando as acusações de, ao julgar, ter agido em conluio com o Ministério Público Federal, órgão ao qual cabe acusar suspeitos de cometer crimes.
Para o ministro, a forma como as notícias vêm sendo divulgadas e a repercussão que o caso ganhou estão cercadas por “manipulação sensacionalista, com interpretações que não correspondem ao conteúdo do texto”.
Na fala final, Moro manifestou repúdio a ameaças contra parlamentares. Ele afirmou que é preciso “baixar a temperatura um pouco” e melhorar o diálogo no Parlamento.
Questionado sobre as supostas mensagens trocadas com procuradores da Lava-Jato ao longo da audiência, Moro negou conluio com investigadores e apontou para a existência de um grupo criminoso voltado a anular condenações, atrapalhar investigações e atacar instituições.