Adversário derrotado nas urnas na campanha pelo Palácio da Liberdade em outubro do ano passado, o senador Antonio Anastasia (PSDB) foi escalado pelo governador Romeu Zema (Novo) para defender o estado na manhã desta terça-feira (25) em uma audiência no Supremo Tribunal Federal. Nesta função, o tucano culpou a União pela situação de penúria de Minas Gerais, que disse ter sido agravada principalmente por determinações federais como o pagamento do piso da educação e a Lei Kandir.
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Tragédia de Brumadinho faz STF discutir empréstimo de US$ 1, 2 bi do governo de MGAnastasia diz que Zema é 'sábio' ao escalar tucanos no governo de MG Zema participa de happy hour com deputados da base na ALMGSenador Anastasia comunica ao presidente do PSDB que deixará o partidoZema propõe mudança na Constituição de Minas para facilitar privatização de estataisSecretário do Tesouro defende corte de salário de servidores estaduaisAnastasia citou uma informação do secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida, que havia falado antes dele, para dizer que a União compeliu os estados a pegarem empréstimos para fazer investimentos e estimular a economia.
Segundo ele, a União abriu mão de avaliar a condição dos estados de se valerem dos créditos e hoje eles não conseguem pagar a conta. “Lamentavelmente a própria União não foi uma mãe muito amorosa com seus filhos nos últimos anos”, disse.
Piso da educação
Ao justificar o crescimento do gasto com pessoal nos estados apontado por Mansueto, o senador tucano disse que ele esqueceu de mencionar que o acréscimo foi motivado pela União. “A lei do piso salarial dos professores é justa e legítima mas não viu a situação dos estados, aumentaram abruptamente os vencimentos da categoria mas não se fez face à realidade”, disse.
De acordo com Anastasia, que era governador à época, o impacto foi maior em Minas porque os salários tinham “penduricalhos” e o piso incidia sobre o básico. “Isso levou a um crescimento exponencial”, disse.
Anastasia também falou do impacto dos inativos na folha e apontou a compensação insuficiente pelas perdas com a Lei Kandir, que isenta as exportações do pagamento de ICMS, como um dado “gravíssimo”.
Segundo ele, a lei era necessária à época mas o valor da compensação, de R$ 4 bilhões, é o mesmo desde 1996, sendo que estudos mostram que deveria haver uma atualização para R$ 39 bilhões. Segundo Anastasia, Minas tem uma “hemorragia” no caso do minério e também perde com o café.
Compensação da Lei Kandir
O ex-governador mineiro disse que o governo federal não se move para melhorar a compensação que devolveria alguma autonomia aos estados. “Se tomarmos questões relativas aos juros consolidados da década de 1990, da economia federal que levou o Brasil à recessão, a lei do piso salarial e outras despesas e ainda a Lei Kandir, só nesse conjunto de insumos já teríamos valores que são suficientes (para resolver a crise)”, disse.
Anastasia finalizou a fala pedindo boa vontade ao governo federal para não criar novas despeas para os estados.
Ajuste fiscal e Previdência
Após a defesa política feita pelo ex-governador e adversário de Zema nas urnas, o secretário de Fazenda Gustavo Barbosa apresentou slides com números de Minas e apontou a adesão ao regime de recuperação fiscal como saída necessária para tirar o estado da crise. Ele argumentou, no entanto, que a solução não será eficaz se a reforma da Previdência pedida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) não for aprovada. “Qualquer ajuste fiscal sem reforma da Previdência é apenas paliativo”, disse.
Barbosa reafirmou que o principal problema do estado são os gastos com inativos, que deixam o governo “a reboque” e disse que o único efeito imediato da aprovação da reforma será a elevação da contribuição previdenciária. Segundo o secretário, o estado está entre os mais endividados e precisa fazer algo para resolver a situação.
“Nossa avaliação é que devemos partir para o regime de recuperação fiscal”, disse. Sobre a suspensão do pagamento da dívida com a União, que já ocorre por uma liminar, Barbosa disse que a situação traz um custo de R$ 6,2 bilhões em três anos da mora da inadimplência. Segundo ele, os projetos para a recuperação serão enviados à Assembleia em junho ou julho.
A audiência foi convocada pelo ministro Luiz Fux por causa de uma ação cível originária na qual o governo de Minas alega não ter conseguido saldar um empréstimo por causa da situação de penúria fiscal e de calamidade pública por causa do rompimento de mais uma barragem da Vale em Brumadinho. Relator da ação, Fux concedeu liminar em fevereiro que impediu a União de bloquear R$ 612 milhões das contas de Minas e a eventual devolução de valores que tivessem sido bloqueados.