Principal bandeira levantada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o ressarcimento dos cofres estaduais pelas perdas com a Lei Kandir, que desonerou as exportações do pagamento de ICMS, será discutido com a União e os estados no Supremo Tribunal Federal para se chegar a uma possível conciliação. A audiência foi marcada para 5 de agosto pelo ministro Gilmar Mendes e faz parte de uma ação que reclama a omissão do Congresso Nacional sobre o tema.
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Minas deixa de arrecadar R$ 100 bi em duas décadas com a Lei KandirZema diz que decisão final sobre jetons de secretários será da ALMGZema propõe mudança na Constituição de Minas para facilitar privatização de estataisMG propõe receber R$ 135 bilhões que perdeu com Lei Kandir em 60 anosZema adia envio de ajuste à ALMG à espera de Previdência e Lei KandirNesta segunda-feira (1), o STF mandou intimar todos os estados federados para comparecer à audiência na 2ª Turma do STF munidos de “propostas que envolvam o pacto federativo discutido nesses autos”. O despacho determinando a realização da audiência considera a busca por um “compromisso conciliatório” manifestado pelos interessados.
Pelos cálculos dos governadores, as perdas dos estados com a Lei Kandir chegam a R$ 600 bilhões. Só para Minas Gerais este valor é de R$ 135 bilhões.
Alternativa à recuperação fiscal
Em meio à expectativa de envio das propostas para a adesão de Minas ao regime de recuperação fiscal do governo federal, parlamentares mineiros apontam o dinheiro como alternativa às medidas drásticas que precisarão ser tomada para o acordo com a União.
O governador Romeu Zema (Novo) tem dito, no entanto, que embora não vá desistir de cobrar acredita que receber o pagamento seria como ganhar na loteria.
O presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus (PV), comemorou a marcação da audiência, que, para ele, “demonstra a importância de Minas estar mobilizada e brigando pelo direito de ser compensada”. “Afinal é o que prevê a lei e o que o STF já decidiu por unanimidade”, disse.
Um dos organizadores de um livro sobre a Lei Kandir que foi lançado na Assembleia Legislativa de Minas na semana passada, o deputado Sávio Souza Cruz (MDB) defendeu que Minas faça uma articulação com outros estados para apresentar uma proposta conjunta ao governo federal. Ele levou a ideia ao vice-governador Paulo Brant e ao secretário de Planejamento e Gestão Otto Levy.
“Nessa discussão de pacto federativo talvez o item principal seja a Lei Kandir e Minas já devia trabalhar essa proposta, porque a reforma tributária é a próxima pauta do governo federal, depois da Previdência”, disse.
Segundo Sávio, Minas exporta cerca de US$ 25 bilhões e, deste valor, 90% são produtos básicos ou semielaborados. Pelos cálculos do deputado, se esses produtos fossem tributados em 7%, por exemplo, renderiam US$ 1,5 bilhão ou mais de R$ 5 bilhões por ano. “Minas receberia por ano mais do que quer receber uma vez só pela eventual privatização da Cemig”, disse.
Proposta conjunta
O advogado-geral de Minas Sérgio Pessoa, que vai representar Minas na audiência, afirmou que o estado vai se organizar e levará uma proposta.
Pessoa afirmou que a articulação com os estados será importante e deve ocorrer nas próximas semanas, já que a audiência será no início de agosto.
A Lei Kandir, que desonera as exportações do pagamento de ICMS, está em vigor desde 1996, mas a compensação dos estados pelas perdas não foi regulamentada.
Congresso omisso
Decisão do Supremo Tribunal Federal em 2016 entendeu que o Congresso Nacional foi omisso ao não definir as regras adicionais à legislação, que incide sobre o principal tributo de arrecadação dos estados. Na ocasião, foi concedido um ano para os parlamentares fazerem a lei mas isso não ocorreu.
No dia 21 de fevereiro este ano, o ministro Gilmar Mendes deu mais um ano para o Congresso Nacional legislar sobre o tema..