Jornal Estado de Minas

Eduardo Bolsonaro: Confira o perfil do ex-policial que pode virar embaixador nos EUA

As polêmicas na família do presidente Jair Bolsonaro surgem, coincidentemente, na ordem em que Bolsonaro enumera os filhos. Flávio, o “01”, ganhou os noticiários após o caso Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que arranhou o capital político do senador. O vereador Carlos, o “02”, é conhecido pelos comentários controversos no Twitter. Agora, Eduardo, o “03”, está em meio a uma polêmica. Isso porque pode ficar com ele a função de liderar a embaixada do Brasil em Washington (EUA), mesmo sem ter carreira diplomática. Como “credenciais” para o posto, diz saber falar inglês e ter feito intercâmbio nos Estados Unidos, além de ter “fritado hambúrgueres”.
 
Carioca, Eduardo Nantes Bolsonaro, 35 anos, estudou nos colégios Batista Brasileiro e Palas. Na adolescência, curtia os dias de sol no Rio com os membros da banda carioca Forfun. Formou-se em direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2008, e foi aprovado em concurso público, tornando-se escrivão da Polícia Federal, função na qual atuou de 2010 a 2015. Pós-graduando na Escola Austríaca de Economia pelo Instituto Mises Brasil, ainda precisa entregar o TCC (trabalho de conclusão de curso) até o fim do ano para se formar.
O mais esportista dos filhos do presidente é apaixonado por surfe.
Amigos próximos dizem que é “galanteador” e conquistou muitas mulheres. No fim de maio, casou-se com a psicóloga Heloísa Wolf, em cerimônia que contou com 150 convidados. Ele frequenta clubes de tiro e tem agenda pró-armamento.
 
Filho que queria distância da política, foi o último a se deixar seduzir. Empurrado pelo pai, filiou-se ao Partido Social Cristão (PSC) em 2014 e foi eleito deputado federal por São Paulo. Teve cerca de 80 mil votos, usando o nome do pai. Quatro anos depois, conseguiu a reeleição, pelo Partido Social Liberal (PSL), com 1.843.735 votos, sendo o mais votado da história do país. As bandeiras, conservadoras, são as mesmas de Jair Bolsonaro: defende a escola sem partido, faz oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e é contra a política de cotas.
 
De acordo com um amigo, quando pai e filho eram deputados, os gabinetes ficavam próximos e eles dividiam assessores.
“Se fosse a um gabinete falar com o Eduardo, ele não gravava um vídeo sem falar com o pai. E por que ele quis ser PF? A família dele toda é militar. O Jair sempre fez os filhos estudarem para a polícia”, contou esse amigo. “Eduardo queria ser empresário e surfista.”
 
A carreira como parlamentar não transcorre sem imbróglios. Em abril de 2018, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou uma denúncia contra ele, no Supremo Tribunal Federal (STF), por ameaças à jornalista Patrícia Lélis. Em outubro último, circulou nas redes sociais um vídeo em que Eduardo é questionado sobre como reagiria se o STF indeferisse a candidatura do pai à Presidência da República. Ele disse que bastaria “um cabo e um soldado” se alguém “quisesse fechar o STF”. Diante da repercussão negativa, se desculpou.

Trabalho Na Câmara, apresentou neste ano cinco projetos, dos quais três de iniciativa somente dele.
Com Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF), pretende “impor ideologia de gênero no rol de crimes hediondos”. Com outros deputados do partido, declara a princesa Isabel patrona da abolição da escravatura no Brasil. De autoria própria, prevê que sejam desvinculados compulsoriamente e tenham recusadas as matrículas nos estabelecimentos oficiais de ensino os discentes que forem condenados administrativamente ou judicialmente em casos de depredação do patrimônio público.
 
Um outro PL determina a concessão automática de registro aos medicamentos que já tenham sido avalizados por autoridades sanitárias de outros países, e outro, ainda, dispõe sobre a revalidação e o reconhecimento de diplomas de graduação, mestrado e doutorado expedidos por instituições de ensino superior estrangeiras.
 
O filho “03” gosta de viajar e sempre teve desejo de morar nos Estados Unidos e de atuar no ramo internacional. Preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Há meses, tem sido tratado como consultor informal de assuntos internacionais do Palácio do Planalto. Ele seguiu Bolsonaro na maioria das viagens internacionais, como na ida ao Fórum Econômico Mundial, na Suíça, em janeiro. Dois meses depois, chamou a atenção o fato de o pai tê-lo levado, e não o chanceler Ernesto Araújo, à reunião com o presidente norte-americano, Donald Trump, nos Estados Unidos. Em junho, também embarcou com Bolsonaro para a reunião do G-20, no Japão.

“Humilde” Segundo o senador Major Olímpio (PSL-SP), Eduardo é uma pessoa “simples e sem frescura”. “Tenho-o como amigo, é uma consideração mútua. Ele é extremamente humilde, respeitoso nos propósitos e nas atitudes”, elogiou.
“É indiscutível a prerrogativa do presidente de fazer indicações para agências e embaixadas. E Eduardo tem os requisitos necessários para o cargo”, defendeu. Na opinião de Major Olímpio, caso ocorra a indicação, não haverá muita resistência no Senado para aprovar a nomeação. “A oposição vai fazer disso cavalo de batalha, tentar mostrar que é situação de nepotismo. Não creio que há. Alguns gostem ou não, a proximidade maior que Eduardo tem com a família Trump fará uma diferença significativa. Será um facilitador”, argumentou.
 
O senador comentou um vídeo em que o deputado mostra inglês claudicante numa entrevista à Fox, motivo de duras críticas nas redes sociais. “Acho que o inglês dele deve estar dentro do plano da normalidade. Talvez, possa fazer um aprimoramento a um linguajar mais técnico em relação ao cargo”, disse.
 
Uma fonte próxima ao deputado federal relatou que, se ele não assumir o posto diplomático, ficará muito frustrado. “Em Washington, creio que pode ser um ‘testa de ferro’ do Jair.
Um braço dele, mas quem lidaria com as questões operacionais seria uma pessoa de carreira do Itamaraty”, ressaltou.
 
Jair Bolsonaro reafirmou suporte à indicação do filho e disse que “entra em campo para ganhar o jogo”, ao ser questionado sobre a expectativa de aprovação no Senado. Para o presidente, o filho será uma espécie de “vitrine” para o Brasil.

Posto vago O cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos está vago desde abril, quando o chanceler Ernesto Araújo removeu o diplomata Sérgio Amaral do posto. O diplomata Nestor Foster era considerado o favorito para substituí-lo.
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