O presidente Jair Bolsonaro (PSL) tentou amenizar as declarações dadas nesta segunda-feira mais cedo quando atacou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, ao dizer que ele não gostaria de saber como o pai dele morreu, durante o período da ditadura militar. Nesta tarde, enquanto cortava cabelo, Bolsonaro colocou a culpa pelo sumiço em “grupos de esquerda” e isentou os militares de qualquer relação com o desaparecimento.
“Não foram os militares que mataram, não. Muito fácil culpar os militares por tudo que acontece”, afirmou. Ainda de acordo com ele, ser de esquerda na época não significava que seria poupado. “Até porque ninguém duvida, todo mundo tem certeza, que havia justiçamento. As pessoas da própria esquerda, quando desconfiavam de alguém, simplesmente executavam”, acrescentou.
Ainda sobre o assunto, mas sem o tom provocativo usado mais cedo, Bolsonaro disse não querer “polemizar” com o presidente da OAB.
“Não quero polemizar com ninguém, não quero mexer com o sentimento do senhor Santa Cruz. Não tenho nada pessoal, no tocante a ele. Acho que ele está equivocado de acreditar em uma versão apenas sobre o fato. Mas ele tem todo o direito de me criticar etc. Mas essa é versão minha do contato que tive com quem participou ativamente.
O ataque de Bolsonaro ao presidente da OAB ocorreu quando ele falava das investigações sobre Adélio Bispo, responsável pela facada contra o presidente no ano passado, durante a campanha eleitoral. Adélio foi considerado inimputável pela Justiça por transtorno mental. O presidente não recorreu. "Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade", disse.
Felipe é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, integrante do grupo Ação Popular (AP), organização contrária ao regime militar (1964-1985). Ele foi preso pelo governo em 1974 e nunca mais foi visto. Em 2012, no livro "Memórias de uma guerra suja", o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra diz que o corpo de Fernando foi incinerado no forno de uma usina de açúcar em Campos (RJ).
"Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", disse Bolsonaro em coletiva de imprensa.