O PT entrará com uma ação na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo a responsbailização criminal do presidente Jair Bolsonaro devido às declarações sobre o desaparecimento, durante a ditadura militar, de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Bolsonaro disse, nesta segunda-feira, que poderia contar o que houve com Fernando e que Felipe não gostaria "de ouvir a verdade".
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Bolsonaro culpa esquerda e diz que não foram militares que mataram pai do presidente da OABDoria classifica como 'infeliz' fala de Bolsonaro sobre pai de presidente da OABOAB classifica fala de Bolsonaro como 'manifestações excessivas e de frivolidade extrema''PT tinha diálogo com nois cabuloso', diz líder de facção criminosa em mensagensEsquerda e direita se unem em repúdio à fala de Bolsonaro sobre ditaduraComissão reconhece que morte de Fernando Santa Cruz foi 'causada pelo Estado'Presidente da OAB diz que vai à Justiça pedir esclarecimentos de BolsonaroPimenta disse ainda que medidas serão adotadas contra a fala do presidente, segundo o deputado uma "apologia à ditadura, ao crime, à tortura e ao crime contra a humanidade".
"Ele tem a obrigação ética de informar a sociedade brasileira onde (Santos Cruz) foi morto, onde está o corpo. Porque ele foi assassinado, e a família busca essa resposta há décadas. Assim como Rubens Paiva e tantos outros. A ditadura sempre negou esses crime. Talvez ele (Bolsonaro) tenha informações privilegiadas para dar à sociedade brasileira", completou.
Pelo Twitter, Pimenta também pediu manifestações do Supremo Tribunal Federal (STF), à PGR, e aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Nenhum dos citados havia se manifestado sobre o assunto até a publicação desta matéria.
Já a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (RS) disse que, ao se manifestar como fez, Bolsonaro se tornou "réu confesso". "Bolsonaro sabe como foi o desaparecimento do pai do presidente da OAB, sabe de um crime e não tomou nenhuma providência? Isso é corresponsabilidade. Bolsonaro é cúmplice, a partir de hoje, é réu confesso", escreveu no microblog.
Impulsionado por uma série de tuítes do PT, a hashtag #AgoraFalaBolsonaro" chegou ao assunto mais comentado do Twitter.
Entenda o caso
Nesta segunda-feira (29/7), Bolsonaro disse que poderia contar como Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, desapareceu durante a ditadura militar. "Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele.
O presidente acrescentou: "Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro".
O comentário de Bolsonaro foi feito após uma crítica do presidente à postura da OAB na investigação sobre Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro durante campanha à Presidência. A fala de Bolsonaro foi repudiada por políticos, órgãos e entidades, inclusive pela OAB (veja abaixo) e Felipe Santa Cruz, que em nota pessoal disse estranhar a postura de Bolsonaro, "que se diz um homem cristão".
O advogado Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, militou no movimento estudantil e participou do grupo Juventude Universitária Católica (JUC), ligado à Igreja Católica, além de ter integrado a Ação Popular, organização contrária ao regime. Fernando desapareceu no Rio de Janeiro, em 1974.
Nota da OAB
"A Ordem dos Advogados do Brasil, através da sua Diretoria, do seu Conselho Pleno e do Colégio de Presidentes de Seccionais, tendo em vista manifestação do Senhor Presidente da República, na data de hoje, 29 de julho de 2019, vem a público, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 44, da Lei nº 8.906/1994, dirigir-se à advocacia e à sociedade brasileira para afirmar que segue:
1. Todas as autoridades do País, inclusive o Senhor Presidente da República, devem obediência à Constituição Federal, que instituiu nosso país como Estado Democrático de Direito e tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos.
. O cargo de mandatário da Chefia do Poder Executivo exige que seja exercido com equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e sociais, bem assim contra o cumprimento das leis.
3. Apresentamos nossa solidariedade a todas as famílias daqueles que foram mortos, torturados ou desaparecidos, ao longo de nossa história, especialmente durante o Golpe Militar de 1964, inclusive a família de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atingidos por manifestações excessivas e de frivolidade extrema do Senhor Presidente da República.
4. A Ordem dos Advogados do Brasil, órgão supremo da advocacia brasileira, vai se manter firme no compromisso supremo de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, e os direitos humanos, bem assim a defesa da advocacia, especialmente, de seus direitos e prerrogativas, violados por autoridades que não conhecem as regras que garantem a existência de advogados e advogadas livres e independentes.
5. A diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e contra a violação das prerrogativas profissionais.
Brasília, 29 de julho de 2019
Diretoria do Conselho Federal da OAB
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