As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) inicialmente para atacar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e depois minimizando os atos de tortura no período da ditadura militar, causaram reações em instituições, partidos e políticos.
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'Bobajada de 1964 não me interesssa', diz Kalil sobre fala de BolsonaroBolsonaro não dá sinais de que pretende abandonar discurso radicalPT entrará com ação na PGR contra fala de Bolsonaro sobre Santa CruzBolsonaro culpa esquerda e diz que não foram militares que mataram pai do presidente da OABAnistia Internacional repudia fala de Bolsonaro sobre pai de presidente da OABOAB classifica fala de Bolsonaro como 'manifestações excessivas e de frivolidade extrema'Bolsonaro troca integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos PolíticosExército diz que não dispõe de informações sobre morte de pai do presidente da OABDo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), à Anistia Internacional todos repudiaram as falas ou as consideraram “sem humanidade e empatia”, como se referiu a elas o presidente da OAB.
As críticas a Bolsonaro foram, até então, um dos poucos momentos que uniram atores que, normalmente, estão em lados opostos. Ainda nessa segunda-feira o senador Antonio Anastasia (PSDB) dirigiu palavras duras contra Bolsonaro em suas redes sociais.
O tucano relembrou o histórico de “declarações absurdas” proferidas pelo presidente em seu mandato e considerou que a mais recente “extrapolou todos os limites”.
“Não considero digno o chefe da Nação manifestar-se desse modo sobre a morte de um brasileiro honrado e corajoso, ofendendo a sua memória e aos seus familiares. Essa fala foi simplesmente vergonhosa. Ao presidente do Conselho Federal da Ordem a minha total solidariedade”, postou.
O partido do governador Romeu Zema, o Novo, considerou que Bolsonaro vai no caminho contrário ao de um bom governante.
“O NOVO espera que um político tenha senso de prioridade, respeito à população e inspire pelo exemplo. As declarações do presidente Bolsonaro vão na direção oposta. Perde o país”, afirma postagem da legenda nas redes sociais. O PSDB também fez coro às críticas. “Uma declaração desrespeitosa, abusiva e lamentável. Um Líder pode até fazer história, mas não tem o poder de reescrevê-la.”
O prefeito de Belo Horizonte disse que o presidente deveria dedicar o tempo a trazer soluções para os problemas do país. Contudo, chamou de “bobajada” o que ocorreu no período da ditadura.
"Balela"
O próprio presidente Jair Bolsonaro voltou nesta terça-feira a recorrer ao expediente de dar declarações que não se sustentam nos fatos históricos comprovados. Segundo ele, não existem documentos que possam comprovar como se deu a morte do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, durante a ditadura militar, e questionou a veracidade dos documentos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade, criada durante o governo da presidente Dilma Rousseff.
“Nós queremos desvendar crimes. A questão de 1964, não existem documentos se matou, não matou, isso aí é balela. (...) Você quer documento para isso, meu Deus do céu. Documento é quando você casa, você se divorcia. Eles têm documentos dizendo o contrário?”, disse Bolsonaro na manhã desta terça-feira, ao deixar o Palácio da Alvorada após se reunir com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Reações imediatas
Ainda ontem, entidades, partidos e políticos vieram a público para rechaçar a fala de Bolsonaro para atacar o presidente da OAB. Um dos autores do pedido de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, o jurista Miguel Reale Jr.
Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, Reale Jr. foi o primeiro presidente da comissão, cargo que ocupou de 1995 a 2001. Ex-secretário de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e autor da Lei dos Mortos e Desaparecidos (que reconhece os desaparecidos como mortos e a responsabilidade do Estado nessas mortes), José Gregori também avaliou que Bolsonaro deve explicações à comissão.
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), filho de deputado cassado pela ditadura, considerou como “infeliz” a fala do presidente.
A Anistia Internacional também se manifestou condenando o episódio. “É terrível que o filho de um desaparecido pelo regime militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no País, declarações tão duras”, afirmou a diretora-executiva da Anistia no Brasil, Jurema Werneck.
O PT rechaçou o episódio e anunciou que representaria contra Jair Bolsonaro. “Não podemos mais tampar o sol com a peneira. Nós estamos sendo governados por um desequilibrado, que tem traços de personalidade claramente contrários à democracia", afirmou o líder da bancada do partido na Câmara, Paulo Pimenta (RS).
A própria Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considerou ontem que as declarações como "manifestações excessivas e de frivolidade extrema".
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