Jornal Estado de Minas

Esquerda e direita se unem em repúdio à fala de Bolsonaro sobre ditadura


As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) inicialmente para atacar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e depois minimizando os atos de tortura no período da ditadura militar, causaram reações em instituições, partidos e políticos.

Nessa segunda-feira, Bolsonaro afirmou que poderia “contar a verdade” sobre a morte de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, e depois apresentou uma versão sobre o fato que não tem respaldo em informações oficiais, inclusive, das próprias forças militares.

Do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), à Anistia Internacional todos repudiaram as falas ou as consideraram “sem humanidade e empatia”, como se referiu a elas o presidente da OAB.


As críticas a Bolsonaro foram, até então, um dos poucos momentos que uniram atores que, normalmente, estão em lados opostos. Ainda nessa segunda-feira o senador Antonio Anastasia (PSDB) dirigiu palavras duras contra Bolsonaro em suas redes sociais.

O tucano relembrou o histórico de “declarações absurdas” proferidas pelo presidente em seu mandato e considerou que a mais recente “extrapolou todos os limites”.

 “Não considero digno o chefe da Nação manifestar-se desse modo sobre a morte de um brasileiro honrado e corajoso, ofendendo a sua memória e aos seus familiares. Essa fala foi simplesmente vergonhosa. Ao presidente do Conselho Federal da Ordem a minha total solidariedade”, postou.


O partido do governador Romeu Zema, o Novo, considerou que Bolsonaro vai no caminho contrário ao de um bom governante.



“O NOVO espera que um político tenha senso de prioridade, respeito à população e inspire pelo exemplo. As declarações do presidente Bolsonaro vão na direção oposta. Perde o país”, afirma postagem da legenda nas redes sociais. O PSDB também fez coro às críticas. “Uma declaração desrespeitosa, abusiva e lamentável. Um Líder pode até fazer história, mas não tem o poder de reescrevê-la.”


O prefeito de Belo Horizonte disse que o presidente deveria dedicar o tempo a trazer soluções para os problemas do país. Contudo, chamou de “bobajada” o que ocorreu no período da ditadura.

"Balela"

 

O próprio presidente Jair Bolsonaro voltou nesta terça-feira a recorrer ao expediente de dar declarações que não se sustentam nos fatos históricos comprovados. Segundo ele, não existem documentos que possam comprovar como se deu a morte do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, durante a ditadura militar, e questionou a veracidade dos documentos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade, criada durante o governo da presidente Dilma Rousseff.

“Nós queremos desvendar crimes. A questão de 1964, não existem documentos se matou, não matou, isso aí é balela. (...) Você quer documento para isso, meu Deus do céu. Documento é quando você casa, você se divorcia. Eles têm documentos dizendo o contrário?”, disse Bolsonaro na manhã desta terça-feira, ao deixar o Palácio da Alvorada após se reunir com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Reações imediatas

 Ainda ontem, entidades, partidos e políticos vieram a público para rechaçar a fala de Bolsonaro para atacar o presidente da OAB. Um dos autores do pedido de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, o jurista Miguel Reale Jr.

afirmou que Bolsonaro "tem de prestar contas" das suas afirmações à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, órgão vinculado ao atual Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. 


Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, Reale Jr. foi o primeiro presidente da comissão, cargo que ocupou de 1995 a 2001. Ex-secretário de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e autor da Lei dos Mortos e Desaparecidos (que reconhece os desaparecidos como mortos e a responsabilidade do Estado nessas mortes), José Gregori também avaliou que Bolsonaro deve explicações à comissão.


O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), filho de deputado cassado pela ditadura, considerou como “infeliz” a fala do presidente.


A Anistia Internacional também se manifestou condenando o episódio. “É terrível que o filho de um desaparecido pelo regime militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no País, declarações tão duras”, afirmou a diretora-executiva da Anistia no Brasil, Jurema Werneck.


O PT rechaçou o episódio e anunciou que representaria contra Jair Bolsonaro. “Não podemos mais tampar o sol com a peneira. Nós estamos sendo governados por um desequilibrado, que tem traços de personalidade claramente contrários à democracia", afirmou o líder da bancada do partido na Câmara, Paulo Pimenta (RS).

A própria Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considerou ontem que as declarações como "manifestações excessivas e de frivolidade extrema". 

 

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