Alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos ( CEMDP) teve quatro de seus integrantes trocados nesta quinta-feira, 1º. Entre eles, a presidente Eugênia Augusta Gonzaga Fávero. Em decreto publicado no Diário Oficial da União, assinado também pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, o governo designa para presidente da comissão Marco Vinícius Pereira de Carvalho.
Leia Mais
Caso Santa Cruz: Bolsonaro duvida da comissão da verdadeEsquerda e direita se unem em repúdio à fala de Bolsonaro sobre ditaduraPresidente da OAB diz que vai à Justiça pedir esclarecimentos de BolsonaroBolsonaro provoca presidente da OAB: 'Posso contar como o pai dele desapareceu'Anistia Internacional repudia fala de Bolsonaro sobre pai de presidente da OABBolsonaro diz que não ofendeu pai do presidente da OAB, mas vai prestar esclarecimentosA ex-presidente afirmou que vê a substituição como uma represália pela sua postura diante dos últimos acontecimentos. "Lamento muito. Não por mim, pois já vinha enfrentando muitas dificuldades para manter a atuação da CEMDP desde o início do ano, mas pelos familiares. Está nítido que a CEMDP, assim como a Comissão de Anistia, passará por medidas que visam frustrar os objetivos para os quais foi instituída", afirmou.
Eugênia Augusta afirmou ainda que o governo pode substituir membros, mas tem que observar os requisitos previstos na Lei. O indicado tem que ter ligação ou vínculo com o tema de mortos e desaparecidos políticos.
Criada em 1995 por um Projeto de Lei, a comissão não é subordinada hierarquicamente ao presidente, mas tem estrutura de trabalho que está instalada no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Na prática, isso significa que o Palácio do Planalto não pode simplesmente extinguir o colegiado, mas tem poder para esvaziá-lo. E foi isso que Bolsonaro fez, segundo Eugênia Gonzaga, que presidiu a Comissão Especial desde 2014.
Santos Cruz
A troca na composição da comissão ocorre após a polêmica envolvendo as declarações do presidente Jair Bolsonaro a respeito da versão sobre a morte do desaparecido político Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
Bolsonaro afirmou nesta semana ter ciência de como Santa Cruz, integrante do grupo Ação Popular, "desapareceu no período militar". Depois, disse que o militante foi morto por correligionários na década de 1970.
A comissão, que é vinculada ao Ministério da Mulher, reconheceu na semana passada que a morte de Fernando Santa Cruz foi "não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro". No atestado de óbito, consta que Fernando Santa Cruz morreu provavelmente no dia 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro..