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Estado de Minas

Alvos de Bolsonaro viram vítimas de boatos nas redes sociais

Informações falsas sobre os desafetos do presidente, como o presidente da OAB e a jornalista Míriam Leitão, circulam em meio aos ataques


postado em 04/08/2019 06:00 / atualizado em 04/08/2019 07:34

Segundo especialistas, informações infundadas tentam validar ataques de Bolsonaro a pessoas e instituições(foto: Evaristo Sá/AFP )
Segundo especialistas, informações infundadas tentam validar ataques de Bolsonaro a pessoas e instituições (foto: Evaristo Sá/AFP )

São Paulo – Aconteceu com a jornalista Miriam Leitão, com o governador Flávio Dino (PCdoB), com Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e até com o prefeito de Nova York, Bill de Blasio. Após ataques públicos de Jair Bolsonaro a pessoas e instituições, elas imediatamente se tornam personagens de boatos infundados de grande circulação nas redes sociais. As ondas de desinformação buscam validar as declarações do presidente e, ao mesmo tempo, manchar a reputação de seus alvos.

"A peça de desinformação pega carona na indignação, na tentativa de explicar o que está acontecendo ou na vontade de uma parcela do público de dar apoio ao presidente", avaliou Pablo Ortellado, professor do curso de gestão em políticas públicas da Universidade de São Paulo (USP) e estudioso da polarização nos ambientes virtuais.

Ortellado ressaltou que produzir um meme ou um boato não exige muito tempo ou esforço. São peças pouco sofisticadas que não se apoiam em dados ou argumentos aprofundados. Esse imediatismo ajuda a desinformação a se tornar língua franca em um ambiente altamente polarizado. Como disse o professor, quem já está posicionado em um dos polos do espectro político busca conteúdos que embasem sua opinião previamente formada – é o chamado "viés de confirmação".

"Nessa característica, as redes de desinformação conseguem grande sucesso, porque elas oferecem uma rápida explicação, mesmo que seja distorcida ou falsa", afirmou Ortellado.

De outro lado, o codiretor do Instituto Tecnologia & Equidade, Ariel Kogan, disse que a forma como a desinformação se espalha após uma declaração de Bolsonaro não é uma especificidade do presidente brasileiro. "Boatos sempre existiram na história da sociedade", afirmou. "A novidade é que a tecnologia potencializa o compartilhamento."

Para Kogan, o principal desafio é a alfabetização midiática – ensinar as pessoas a viver neste ambiente digital. "A sociedade não estava preparada para o momento em que vivemos."

VERSÕES

 Exemplos mais recentes de pessoas atacadas que acabaram envolvidas em boataria são o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, e o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que é filho de um ativista político preso e assassinado durante a ditadura militar.

Sem apresentar evidências, Bolsonaro afirmou em 29 de julho que o pai de Santa Cruz, Fernando, teria participado da luta armada e sido morto por seus próprios companheiros. O próprio governo já reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte.

Nas horas seguintes, começaram a circular nas redes sociais peças que falsamente associavam Fernando a um atentado no Recife e que o identificavam em uma foto, armado, ao lado do então líder estudantil José Dirceu – a pessoa retratada era, na verdade, um policial.

Antes, em 19 de julho, Bolsonaro reproduziu durante café da manhã com correspondentes estrangeiros a alegação falsa de que Miriam Leitão estaria indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa durante a ditadura. No Twitter, a reação foi rápida: no mesmo dia, foi lançada a hashtag #MiriamLeitaoTerroristaSim, segundo levantamento da pesquisadora Luiza Bandeira, do Atlantic Council, que monitora redes de desinformação nas redes sociais.

A mesma conta que lançou a campanha de difamação contra Miriam tuitou a hashtag 444 vezes ao longo de três dias. De acordo com Luiza, nesse caso, houve uma coordenação com outras pessoas para subir a expressão ao ranking de assuntos mais comentados da rede social. Mais da metade das menções a #MiriamLeitaoTerrorista Sim veio de 10% dos usuários que usaram a hashtag. “A fala do presidente pauta a agenda tanto dos bons atores quantos desses maus atores nas redes”, afirmou a pesquisadora.

Espaço 

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi atacado por Bolsonaro na mesma ocasião de Miriam – ele acusou o órgão de divulgar dados falsos sobre a Amazônia. O sistema de satélite que indica alertas de desmatamento em tempo real, o Deter-B, registrou aumento de 254% de área desmatada em julho de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior.

O Monitor de WhatsApp da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que captura o conteúdo que mais circula em grupos públicos do aplicativo de mensagens, indicou que nos dias seguintes às críticas de Bolsonaro começou a viralizar o vídeo de um médico que alega, sem base factual, que os dados do Inpe eram mentirosos. A desinformação também foi reproduzida no Facebook. O Estadão Verifica publicou uma checagem sobre o assunto em 30 de julho, em parceria com o projeto Comprova.

Outros casos semelhantes também ocorreram neste ano. Em maio, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, foi falsamente acusado de corrupção, tráfico de drogas e estupro. Não há documentos que comprovem as alegações. Os boatos começaram a correr após o integrante do Partido Democrata criticar o anúncio da ida de Bolsonaro à cidade americana – a viagem acabou cancelada.


enquanto isso...
...Queda nas redes sociais

As frases polêmicas proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas, políticos e instituições na última semana de julho coincidiram com queda na avaliação do governo federal nas redes sociais, indica monitoramento da startup Arquimedes. O índice registrou baixa semelhante em maio, no mesmo período em que o presidente foi cercado por críticas e questionamentos pelo decreto que flexibilizou o porte de armas. O Índice de Sentimento Arquimedes (ISA) mede diariamente o humor das manifestações a partir de publicações de perfis e páginas públicas no Twitter e no Facebook sobre o governo, variando de zero a 100, em que zero é totalmente negativo e 100 é totalmente positivo. O levantamento aponta um início de julho positivo, com 46 pontos. No período, o Planalto era impulsionado pela manifestação pró-governo de 30 de junho e acompanhava a tramitação e aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados. A partir da segunda quinzena, porém, a variação teve uma baixa e chegou aos 35 pontos – menor índice registrado desde a posse. 


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