O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, diz que é do interesse da França "falar com o Brasil, com todos os brasileiros". A declaração seria uma resposta à crítica do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de que o chanceler se reuniu com organizações não governamentais (ONGs). Le Drian também brincou com o que chamou de "emergência capilar" do presidente brasileiro, em referência ao cancelamento de última hora da reunião que teriam, na última quarta-feira, por "questão de agenda" e ao fato de que, na mesma tarde, apareceu em uma transmissão ao vivo nas redes sociais cortando o cabelo.
"Todo mundo conhece as restrições próprias das agendas dos chefes de Estado. Ao que parece, houve uma emergência capilar. Essa é uma preocupação que é estranha para mim", declarou Le Drian, referindo-se a sua calvície, em uma entrevista ao Journal du Dimanche, ao ser questionado se o cancelamento de última hora da reunião não seria uma humilhação.
Mesmo sem encontrar Bolsonaro, Le Drian classificou como positiva sua visita ao Brasil, que tinha como objetivo fortalecer as relações bilaterais, a defesa dos interesses da França e a preparação das questões climáticas da COP25. "Eu tive conversas com minha contraparte, com a sociedade civil brasileira, particularmente com ONGs, mas também com a sociedade civil econômica. Eu também falei com os governadores de vários Estados. É do interesse da França falar no Brasil, para todo o Brasil", disse.
Inicialmente alegando "uma questão de agenda", Bolsonaro cancelou a reunião que teria com Le Drian na tarde de segunda-feira, mas na mesma tarde, fez uma transmissão ao vivo enquanto cortava o cabelo. Ao comentar, na quinta-feira, o cancelamento, Bolsonaro voltou a afirmar que cancelou a agenda porque tinha outro compromisso, mas admitiu que outros fatores contribuíram. O presidente disse que "ficou sabendo" que o chanceler tinha marcado reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão, com representantes de ONGs e governadores do Nordeste. "O que ele veio tratar com ONG aqui? Quando fala em ONG, já nasce um sinal de alerta", disse, na última quinta-feira.
Le Drian também foi questionado sobre a confiança de que efetivamente o Brasil não sairia do Acordo de Paris e citou que o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, prometeu a criação de um grupo de trabalho sobre questões ambientais e a implementação do acordo antes da COP25 em Santiago, marcada para dezembro. "Espero que este processo possa ser implementado", disse, lembrando ainda do acordo com o Mercosul, tendo em vista que o tratado prevê o compromisso de todos os países com a plena implementação do acordo. "Os compromissos lançados devem ser respeitados. É a razão pela qual o primeiro ministro, a pedido do presidente, se comprometeu com a implementação de uma comissão de avaliação para assegurar a plena conformidade com o Acordo de Paris, as normas fitossanitárias e a proteção dos nossos setores agrícolas. É uma grande exigência que colocamos. Este relatório, tornado público, servirá de guia para a nossa posição final", disse.
POLÍTICA