Jornal Estado de Minas

Prefeito de Santa Luzia diz que processo de impeachment é 'grande circo'

Vereador César Lara Diniz é o relator da Comissão Processante - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press prefeito de Santa Luzia, Christiano Xavier (PSD), afirmou nesta quarta-feira que a aprovação da tramitação do processo de impeachment na Câmara Municipal do município, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nada mais é que “um grande circo” e “uma palhaçada”. Em entevista coletiva, ele negou a existência de irregularidades que pudessem levá-lo a perder o mandato Nessa terça-feira foi aprovada na Casa a criação de uma comissão processante que vai analisar ações do prefeito consideradas irregulares.

Quem apresentou a denúncia contra o prefeito foi o advogado Abraão Gracco, o mesmo que pediu o impeachment da ex-prefeita Roseli Pimentel (PSB), em novembro de 2017 (ela renunciou ao cargo em maio de 2018).

O advogado diz que Christiano descumpriu a Lei Orgânica ao infringir três normas: ausentar-se do país sem autorização, desrespeitar decreto de calamidade financeira e não aplicar verbas públicas destinadas à saúde.

"Achamos isso tudo um grande circo. Fazemos tudo com transparência, dentro dos aspectos da regularidade, com pareceres fortes e embasados por nossa procuradoria. Vivemos um momento de calamidade sim, decretada. Sou o sétimo prefeito deste mandato de alternância, e chegamos aqui em completo abandono”, disse.

Christiano ainda se defendeu de outras acusações que embasaram o pedido de abertura de processo de impeachment.
“Em meio a isso, teve o aniversário da cidade, e usamos o Fundo da Cultura, uma verba utilizada somente para aspectos referentes ao patrimônio histórico e festas do calendário oficial da cidade. Sobre as cirurgias, as pessoas poderiam correr risco de morte. Os balões de oxigênio não ofereciam a segurança necessária. E fizemos uma suspensão deles, e com a requalificação essas operações já voltaram e estão funcionando normalmente”, declarou.

Sobre a viagem, o prefeito de Santa Luzia ainda destacou que decisão anterior do Supremo Tribunal Federal (STF) já estabeleceu a circunstância em que não há necessidade de um pedido de autorização prévio. “A história da viagem é uma palhaçada. Isso já está pacificado no STF, foi decretado e me baseei nisso para me ausentar somente quatro dias das minhas funções, e não foi com dinheiro público", disse Christiano.


Por 10 votos a 5 (houve uma ausência), a Câmara Municipal aprovou e deu início à investigação por meio de uma Comissão Processante. Ela será composta por Sandro Coelho (PSB) (presidente), Vagner Guiné (PMDB) (vice-presidente) e César Lara Diniz (PCdoB) (relator). Christiano demonstrou chateação com alguns parlamentares.

 

Retaliação

 

O prefeito ainda considerou que a tramitação do processo de cassação é uma retaliação ao fim da política do “toma lá, da cá” que, segundo ele, imperava na Câmara da cidade. “Temos incomodado os vereadores. Quando chegamos aqui era uma balbúrdia, parecia que tinha passado uma nuvem de gafanhotos. Muitos atuam com a prática do 'toma lá, dá cá'. Estamos com responsabilidade, sem ceder à pressão, muitos deles querem espacinho, algum cargo, e esses parlamentares vivem de migalhas”, disparou..

Por fim, ele desafiou os parlamentares a levarem a diante o processo de impeachment para demonstrar aos moradores da cidade qual a índole deles. “Com a gente tem responsabilidade, e quero que os dez vão até o fim e mostrem quem eles são à população.

Eles querem o atraso dessa cidade, que está um verdadeiro canteiro de obras por nossas mãos", finalizou o prefeito.

Christiano Xavier, natural de BH, assumiu o posto depois de uma eleição suplementar em junho de 2018, quando venceu Sandro Coelho (PSB). O ex-delegado, de 41 anos, foi eleito após a renúncia da ex-prefeita Roseli Pimentel (PSB). Ela é suspeita de envolvimento na morte do jornalista Maurício Campos Rosa.

 

"Climão" na Câmara


População desaprova inconstância na prefeitura da cidade - Foto: Matheus Muratori/EM/D.A. Press As declarações de Christiano Xavier repercutiram na Câmara Municipal. Relator da Comissão Processante, César Lara Diniz (PCdoB) se defendeu e disse que aceitou a denúncia para tomar conhecimento do assunto.

"Temos que ter cuidado com as coisas. São três passos: a aceitação da denúncia, apuração e votação final. Os vereadores estão aqui para analisar, estudar os casos, e foi isso que os dez fizeram. Não tem nada de ser contra ou a favor do prefeito, é apenas para entender o caso. Agora, me surpreende muito os que já quiseram votar pelo arquivamento da denúncia, pois ainda não tinham conhecimento do conteúdo da denúncia, que só foi lido pela secretária. Naquele momento, ninguém tinha em mãos", disse César, ao Estado de Minas.

Já André Leite (PSDB), que votou pelo arquivamento da denúncia, garantiu a confiança no prefeito. Além disso, ele minimizou um possível clima ruim na Câmara a partir do aceite da denúncia.

"Ele tem esse voto de confiança nosso.
A denúncia é justificável, mas pelo bem comum da cidade e entendendo o que o prefeito tem tentado fazer pela cidade, que está desde 2017 com problemas de gestão, decidimos agir assim", relatou André à reportagem.

População incomodada


Desde 2016, Santa Luzia já teve quatro prefeitos - Carlos Alberto Parrillo Calixto (PSD), Roseli Pimentel (PSB), Sandro Coelho (PSB) e Christiano Xavier (PSD) - e alternâncias por diversos motivos. Elas se dão desde a morte de Calixto até a Cassação de Roseli, também acusada de uso indevido dos jornais da cidade durante a campanha e gasto de R$ 165 mil com procedência desconhecida. A instabilidade política incomoda a população da cidade, como o aposentado Gaspar Rodrigues, de 59 anos.

"Não tenho preferência nenhuma. Foram tantas trocas, é uma vergonha para a cidade de Santa Luzia ter quatro prefeitos em uma gestão só, é muito feio isso aí. Isso preocupa muito a gente", contou o aposentado..