O PSL vai implantar uma espécie de "filtro" ideológico para definir quem serão seus candidatos nas próximas eleições e evitar que nomes considerados desalinhados ao governo Jair Bolsonaro representem a sigla. A medida ocorre após cobrança do próprio presidente, que exige o "enquadramento" de parlamentares que discordem de ações da sua gestão. Na terça-feira, um desses dissidentes, o deputado Alexandre Frota (PSL-SP), foi expulso da legenda.
Leia Mais
Líder do PSL diz que sigla não é intransigente e não será 'PT à direita'''Há um cansaço do circo inaugurado por Bolsonaro'', diz presidente da OABBolsonaro vai ao Piauí inaugurar escola militarizada com seu nomePSL de Bolsonaro faz evento em BH em busca de candidatos para 2020Eduardo Bolsonaro: 'Diplomacia sem armas é como música sem instrumentos'Ainda não está definido como e quem fará o pente-fino nos nomes que poderão concorrer pelo PSL. Um grupo do partido defende a contratação de uma consultoria externa especializada em compliance, enquanto outro quer a criação de uma espécie de conselho, formado por nomes da própria sigla. Compliance é um termo empresarial que se refere a uma série de regras adotadas para certificar que funcionários estão agindo em conformidade com a legislação e os códigos de ética da empresa.
"É uma medida para dar uma cara de novo ao PSL. A gente tem de saber quem está vindo se candidatar pelo partido.
No início do mês, o presidente do partido, o deputado Luciano Bivar (PE), se reuniu com Bolsonaro no Palácio do Planalto a portas fechadas. Lá, o dirigente do PSL foi cobrado a "enquadrar" os deputados do partido que discordam do governo. O presidente disse ainda a Bivar que era necessário afinar o discurso da bancada e cobrou "unidade". Em troca, Bolsonaro sinalizou ficar na sigla até 2022.
"Nós somos um partido do governo. O presidente é nosso filiado.
Antes de Bolsonaro se filiar, o partido era considerado nanico e elegeu apenas um deputado em 2014. No ano passado, foram 52.
Além da defesa do bolsonarismo, o candidato terá de assumir a pauta conservadora nos costumes, ser a favor da reforma do Estado e condenar o aborto e a chamada "ideologia de gênero". Os filiados passam também por uma investigação do seu passado político e pelas publicações feitas em redes sociais.
"Não poderá ter ligação com a esquerda. Do PT, jamais", afirmou o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). Questionado sobre o caso do apresentador José Luiz Datena, cotado para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo partido, mas que já foi filiado ao PT, Tadeu disse que a regra vai prever exceções. "Hoje, ele é declaradamente de direita."
As mudanças representam o fortalecimento das alas ideológicas e militares, que, desde o início do governo, cobravam uma maior fidelidade dos deputados ao governo e a Bolsonaro. O próprio líder da bancada na Câmara, Delegado Waldir (GO), já criticou abertamente o presidente.
Expulsão
A expulsão de Frota já estava sendo articulada desde o mês passado.
Terceiro deputado mais votado do PSL em São Paulo, com 155 mil votos, Frota foi eleito com base na defesa enfática de Bolsonaro e em ataques ao PT. Após a eleição, as críticas passaram a ser feitas também ao próprio presidente e ao governo.
A situação do parlamentar na sigla se agravou após ele afirmar que Bolsonaro é a sua "maior decepção" e que a indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, para a embaixada brasileira em Washington representa a "velha política". O deputado também entrou em disputa pelo comando de diretórios do PSL em São Paulo.
No sábado, o parlamentar desativou seus perfis nas redes sociais. A medida foi vista como uma "prevenção" aos ataques que poderia vir a sofrer com a expulsão. No Facebook, Frota tinha 1,1 milhão de seguidores. No Twitter, somava 170 mil. Procurado, o deputado não quis se manifestar..