O presidente Jair Bolsonaro voltou, nesta quinta-feira (15/8), a fazer críticas a obras audiovisuais que recebem autorização da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para captar recursos por meio da Lei do Audiovisual. Em transmissão ao vivo pela internet, elencou algumas que, segundo ele, teriam entrado com pedidos, mas que o governo havia conseguido "abortar a missão". Entre os títulos citados, está Afronte, dos diretores brasilienses Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo.
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Afronte é o título de um curta-metragem produzido por Azevedo e Santos como projeto de conclusão de curso em audiovisual na Universidade de Brasília (UnB). O filme foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2017 e ganhou o Prêmio Saruê, concedido pela equipe de Cultura do Correio Braziliense. Para a produção foram arrecadados R$ 10 mil por via de doações via internet. O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) e a atriz Leandra Leal ajudaram na arrecadação.
Neste ano, a dupla de diretores entrou com um pedido de patrocínio para uma série de mesmo nome, derivada do filme. Ao Correio, Santos disse que não houve ainda resposta da Ancine. Pela fala de Bolsonaro nesta quinta-feira, porém, as chances de aprovação parecem não existir.
O diretor lamentou a postura do presidente. "Estou surpreso que ele tenha tido conhecimento sobre conteúdos de qualidade. Ele é extremamente ignorante ao pensar que filmes como esse, que falam sobre nós, não deveriam ser produzidos. É importante que ele assista a esse filme, para que ele tenha o mínimo de conhecimento sobre a realidade brasileira", afirmou. "Se o racismo fosse levado a sério no Brasil não teríamos um presidente como esse. Falta ele estudar. O cinema está aí para refletir todas as realidades”, completou.
Outras produções barradas
Na transmissão ao vivo, o presidente disse que tinha uma lista de dezenas de filmes que, em sua opinião não deveriam contar com verba pública ou patrocínios que se convertem em abatimento de impostos. Além da produção brasilense, os outros títulos citados foram Transversais, que segundo o presidente conta a história de "sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que vivem no Ceará"; Sexo reverso, que abordaria "sexo grupal, sexo oral e certas posições sexuais"; e Religare queer, sobre "uma ex-freira lésbica". "É pra cair para trás", disse Bolsonaro.
Para o presidente, a intervenção na Ancine não é censura. "Não censurei nada. Quem quiser pagar, se a iniciativa privada quiser fazer filme da Bruna Surfistinha, fique à vontade. São milhões de reais que são gastos com esse tipo de tema", disse. "E outra: geralmente, esses filmes não têm audiência, não têm plateia, tem meia dúzia ali. Agora, o dinheiro é gasto", afirmou.