Em meio à crise das queimadas na Amazônia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro. Maia afirmou que o País vive num "quase um Estado autoritário" em todas as áreas, inclusive, na questão ambiental. Para aliados, a estratégia de Maia tem dois propósitos: de um lado buscar protagonismo político internamente, de outro acalmar empresários no exterior de que o Brasil ainda é um bom lugar para se investir.
Maia quer uma agenda positiva na Câmara para contrapor à reação negativa dos europeus à condução do governo brasileiro frente à crise das queimadas na Amazônia. A avaliação de parlamentares próximos ao presidente da Câmara é que Maia mantém a estratégia de ocupar vácuos políticos deixados por Bolsonaro para fortalecer a agenda do Parlamento e a sua imagem.
"Vivemos quase num Estado autoritário, pelo poder que muitos setores, eu não digo só não área da segurança pública, no Judiciário, mas os setores como um todo, inclusive no meio ambiente, em relação à vida da sociedade brasileira", afirmou Maia hoje num evento da Associação dos Advogados de São Paulo.
Não é a primeira vez que o presidente da Câmara se contrapõe a Bolsonaro e assume uma agenda de governo. Em março, Maia assumiu para si o protagonismo da reforma da Previdência e conseguiu aprovar as mudanças nas regras de aposentadoria. Na época, o parlamentar afirmou que o País não poderia ficar paralisado pela inabilidade do governo.
A reação de Maia acontece após empresários alertarem ao presidente da Câmara sobre os reflexos das últimas declarações de Jair Bolsonaro sobre política ambiental na economia brasileira. Na terça-feira, o coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), levou ao presidente da Câmara e a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, a preocupação. Os três estiveram juntos em uma agenda com representantes da embaixada britânica no Brasil.
"Não dá para ficar no Brasil se queixando como vítima.
A agenda que está sendo costurada pelo presidente da Câmara com parlamentares ligados ao agronegócio e à pauta ambiental tem dois eixos principais. A primeira é de curto prazo com a criação de uma comissão externa e a ida à Europa para visitar parlamentos da Inglaterra, França, Itália, Espanha e Alemanha para mostrar que o agronegócio brasileiro é sustentável.
O outro eixo é interno com a discussão, em plenário, de uma agenda positiva. A bancada verde apresentou na manhã desta sexta-feira três projetos que poderiam ser levados direto à votação.
Uma das propostas cria compensações financeiras para quem protege áreas de vegetação. Os deputados também querem ainda aprovar um projeto de lei que cria regras específicas para o uso do fogo em áreas agrícolas. Um terceira medida também foi dita a Maia e endurece as punições para quem desmatar.
Pela manhã, o presidente da Câmara usou as redes sociais para anunciar que apresentará ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma petição requisitando para educação e para a Amazônia os R$ 2,5 bilhões depositados em janeiro pela Petrobras em uma conta vinculada à Justiça Federal, resultado de um acordo feito com a Justiça dos Estados Unidos. A maior parte do valor iria abastecer um fundo para investir em projetos de combate à corrupção.
"Minha proposta para o combate às queimadas é efetiva. Peticionarmos juntos no Supremo, pedindo os R$ 2,5 bilhões do fundo da Petrobras para a educação e também para a Amazônia. Recursos que estão parados e entrariam hoje no caixa do governo e poderiam, inclusive, ir para os Estados da região", afirmou o presidente da Câmara pelo Twitter.
O presidente Jair Bolsonaro ironizou a fala de Maia "O problema é recurso", respondeu. Em seguida, disse que queria fazer uma pergunta aos jornalistas. "Quero perguntar a vocês, é verdade que o Rodrigo Maia falou que vai dar R$ 2 bilhões do fundo partidário para combater incêndios? Vi uma notinha na imprensa aí", declarou.