Jornal Estado de Minas

Queimadas na Amazônia podem gerar crise bilionária para agronegócio com União Europeia


Se a União Europeia acatar recomendação da Finlândia e boicotar exportações brasileiras por causa das queimadas na Amazônia, o Brasil pode perder seu segundo maior parceiro comercial no agronegócio.

De acordo com o Ministério da Agricultura, entre janeiro e julho, os europeus compraram US$ 7,7 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) em produtos agrícolas e pecuários do Brasil.

Segundo a pasta, o comércio com a União Europeia representa 19,7% das vendas totais do setor. No primeiro semestre de 2019, apenas os chineses compraram mais de produtores brasileiros do que os europeus – as vendas para China representam 23% do total das exportações e os Estados Unidos aparecem em terceiro lugar, com 7,6%.

Ontem, o ministro das Finanças da Finlândia, Mika Lintila, pediu que a União Europeia “considere urgentemente” o banimento de exportações de carne bovina brasileira como resposta aos problemas ambientais na região amazônica.

A Finlândia ocupa atualmente a presidência rotativa do bloco europeu. No primeiro semestre deste ano, o Brasil arrecadou US$ 304,7 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão) somente com exportações de carne bovina para o mercado europeu.

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), em 2018 a União Europeia foi o terceiro maior comprador de carne bovina do Brasil, com faturamento de US$ 728,16 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões) e um volume de 118 mil toneladas. Nos primeiros seis meses deste ano, a Abiec comemorou um crescimento de 20% nas exportações de carne (aumento principalmente de vendas para a China) e acordo entre Mercosul e UE, que poderá baixar tarifas alfandegárias e aumentar o comércio entre os blocos. A entidade não quis comentar a ameaça de boicote feita pela Finlândia.

Ontem, os governos da França e da Irlanda atacaram o governo do Brasil e afirmaram que a falta de compromisso da gestão Jair Bolsonaro em defesa do meio ambiente pode inviabilizar a ratificação do acordo comercial entre os dois blocos – fechado durante cúpula do G20, em junho.

O governo francês subiu o tom nas críticas ao presidente Bolsonaro e afirmou ontem que o brasileiro mentiu no encontro do G20.
“Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República Emmanuel Macron só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula de Osaka”, declarou o Palácio do Eliseu, sede do governo em Paris. A França avaliou que Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos climáticos e por isso se opõe ao acordo com o Mercosul.

A Irlanda também atacou o Palácio do Planalto e prometeu bloquear a implantação do pacto caso o governo brasileiro não atue para combater as queimadas na Amazônia. “Não há nenhuma chance de votarmos a favor se o Brasil não honrar seus compromissos ambientais”, disse o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.

Três perguntas para...

Alceu Moreira (MDB) - Presidente da Frente Parlamentar Agropecuária na Câmara dos Deputados

Existe receio da bancada ruralista de que possíveis restrições de países europeus por causa do aumento das queimadas na Amazônia podem impactar o agronegócio brasileiro? 
A única manifestação que houve atá agora partiu da Finlândia. Outros países não falaram em qualquer boicote. Acredito que enquanto as manifestações vierem de setores específicos, sem serem institucionais, elas se tratam de posicionamentos de natureza política. Caso algum presidente europeu, de forma institucional, faça declaração sobre embargos ele terá que esclarecer as verdades sobre os fatos. Porque, até agora, não há nenhum fato na Amazônia diferente do que vem acontecendo na região nos últimos 15 anos.

Mas, além da Finlândia, o presidente da França afirmou que o acordo entre Mercosul e União Europeia está sob risco de ser cancelado por causa de questões ambientais envolvendo o Brasil.
Quando assinamos o acordo com a União Europeia, antes de qualquer problema na região amazônica, França, Irlanda e Alemanha já eram os países que ofereciam maior resistência ao acordo.
São países que têm na agricultura um fator importante de suas economias. No entanto, eles não têm como aumentar sua produção porque já não existe terra disponível por lá. Também já esgotaram sua capacidade tecnológica, com um alto custo de produção, além de terem apenas uma safra anualmente por questões climáticas. Então, precisamos entender que a questão deles é meramente comercial. O discurso que usa as queimadas na Amazônia tem um pano de fundo que precisa ser levado em conta. Isso não gera qualquer conforto e é preciso deixar claro que temos grande responsabilidade sobre a Amazônia. O Brasil precisa mostrar ao mundo que tem esse cuidado com a região.

O presidente Bolsonaro admitiu que aumentaram as queimadas neste ano e que existem suspeitas de que produtores rurais usem o fogo para desmatar florestas. Foi um alerta para o setor ruralista?
O setor do agronegócio no Brasil é frontalmente contrário ao desmatamento ilegal.
Defendemos a fiscalização e as regras de controle para a produção. Os pronunciamentos feitos pelo presidente têm uma dose elevada de improviso. Ele fala o que sente no momento, mas hoje (ontem) vai explicar em cadeia nacional a questão de forma mais analítica. É preciso realmente explicar o que está acontecendo e trabalhar melhores formas de informar as pessoas sobre o que é real e o que é falso. Também vamos discutir com os parlamentares europeus para mostrar com base em informações científicas a verdadeira situação da Amazônia e o que pode ser feito.
 


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