Mais que a situação da Amazônia em si, que teve um aumento no número de queimadas registrado nas últimas semanas, o uso das redes sociais pelos presidentes da França, Emmanuel Macron, e do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), acabou iniciando uma crise diplomática entre os dois chefes de estado. Desde a última quinta-feira, os dois trocam críticas e acusações em uma série de posts e entrevistas, que respingaram até nas primeiras damas dos respectivos países.
Tudo começou com a manifestação de Macron pelo Twitter na quinta-feira (22), quando ele convocou os países do G7 a discutirem as queimadas na Amazônia no encontro que ocorreu no fim de semana. “Nossa casa está queimando. Literalmente. A Floresta Amazônica - os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta - está em chamas. É uma crise internacional”, escreveu o francês.
Pouco depois, Bolsonaro foi à mesma rede dizer que o presidente da França usava tom sensacionalista e estava querendo instrumentalizar uma questão interna do Brasil. O presidente brasileiro afirmou ainda que Macron usou uma foto falsa e tinha uma mentalidade “colonialista” ao querer incluir o tema no debate do G7.
Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest - the lungs which produces 20% of our planet%u2019s oxygen - is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let's discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon pic.twitter.com/dogOJj9big
%u2014 Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) August 22, 2019
- Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ ganhos políticos pessoais. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até p/ fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema.
Idiota e cretino x mentiroso
No mesmo dia, o filho de Bolsonaro que pretende ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, deputado federal Eduardo Bolsonaro, publicou vídeo dizendo que Macrón era um “idiota”.
Recado para o @EmmanuelMacron :https://t.co/qVyQ3Kl5ou
%u2014 Eduardo Bolsonaro%uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7 (@BolsonaroSP) August 22, 2019
No domingo (25), foi a vez do verborrágico ministro da Educação, Abracham Weintraub se referir ao presidente da nação francesa como “cretino” em postagem também no Twitter. Ele fez alusão à situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso em Curitiba, para dizer “Ferro no cretino do Macrón, não nos franceses…”.
Os franceses elegeram esse Macrón, porém, nós já elegemos Le Ladrón, que hoje está enjauladón...Ferro no cretino do Macrón, não nos franceses...
%u2014 Abraham Weintraub (@AbrahamWeint) August 25, 2019
Em meio a essa discussão virtual, Emmanuel Macrón acusou, na sexta-feira (23), Bolsonaro de mentir sobre os compromissos ambientais e disse se opor ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. O discurso, no entanto, não encontrou ressonância nos demais líderes do G7.
No domingo, Bolsonaro virou notícia internacional mais uma vez ao reforçar uma piada feita em rede social com Brigitte, a mulher de Macron. Um seguidor do presidente Bolsonaro postou a foto de Brigitte e de Michelle (primeira-dama brasileira), dizendo que Macron o estaria perseguindo por inveja. O presidente do Brasil respondeu: “Não humilha cara. Kkkkk”. A comparação se referia às idades das duas esposas e dava a entender que Bolsonaro teria vantagem porque a sua era mais jovem.
O tom jocoso com que Bolsonaro se referiu à primeira dama francesa chegou ao conhecimento de Macron, que nesta segunda-feira (26) considerou o brasileiro “extremamente desrespeitoso” e disse lamentar pelos brasileiros.
Bolsonaro, por sua vez, usou o Twitter novamente nesta segunda-feira para acusar Macron de fazer “ataques descabidos e gratuitos à Amazônia”. Segundo, ele, o país não pode aceitar isso “nem que (Macron) disfarce suas intenções atrás da ideia de uma "aliança" dos países do G-7 para "salvar" a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém”.