Vitrine do Partido Novo em administrações públicas, o governador de Minas Gerais Romeu Zema parece ter se adaptado bem nos oito meses de gestão a práticas que, durante a campanha eleitoral, definia como sendo da “velha política”. Além de mudar de ideia sobre algumas das principais promessas que fez no sentido de “ser diferente”, o empresário tem se aproximado de políticos veteranos para articular sua administração.
A última mudança, concretizada na última semana, foi a nomeação do deputado federal Bilac Pinto (DEM) para a Secretaria de Governo. No período eleitoral, Zema disse em debates com os concorrentes que seu secretariado seria somente técnico e que não haveria presença de parlamentares eleitos. Bilac foge aos dois critérios. Além de vir da Câmara dos Deputados, que vai pagar seu salário de R$ 33,7 mil, tem atuação antiga nos governos do PSDB. Egresso do antigo PFL, foi secretário nos governos Hélio Garcia e dos tucanos Aécio Neves e Antonio Anastasia, além dos mandatos como deputado estadual e agora federal.
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Lei aprovada na Assembleia proibia pagamento de jetons, mas foi vetada por ZemaSegundo escalão de Zema também recebe jetons Zema se livra de ação do PSDB no STF por atraso de repasses a municípiosALMG barra tentativa de Zema de manter ICMS elevado com ajuda de deputado do Novo'Quero perder todas as estatais', diz Zema, sobre projeto de privatizações em MinasComissão de ética do Novo de Minas Gerais pode punir deputadoSecretário de Romeu Zema pede demissãoDeputados estaduais usam plenário para criticar Romeu ZemaFogo na Amazônia queima imagem do Brasil no exteriorQuem também ajudou na negociação com os deputados foi o líder do governo Luiz Humberto Carneiro (PSDB), um dos mais antigos parlamentares da Assembleia que ocupou a mesma função de representar o Palácio no Legislativo durante o governo Anastasia. No primeiro escalão, Zema também manteve um nome do governo do petista que tanto criticou, Fernando Pimentel: o secretário de Meio Ambiente, Germano Vieira.
A ideia de administrar com um secretariado trabalhando de graça também foi abortada na prática. Somente Zema e o vice-governador Paulo Brant deixarem de receber os salários de R$ 10,5 mil e R$ 10,250 mil, conforme documento que registraram em cartório na campanha. Os secretários, que também foram incluídos na proposta, ficaram de fora. Em entrevista ao Estado de Minas, o governador admitiu ter colocado a equipe no texto por uma ideia de marketing, considerando as chances mínimas que tinha, à época, de ser eleito.
Complemento salarial Além da remuneração, o eleito Romeu Zema admitiu que os subordinados passassem a receber jetons para aumentar a renda de R$ 10 mil brutos pagos pelo Executivo. Durante a campanha, o agora governador disse que a prática dos governos passados equivalia a um “puxadinho” para engordar salários. A Assembleia aprovou emenda proibindo o pagamento mas reviu a posição depois que o governador vetou o artigo e foi a público dizer que errou ao fazer a promessa.
Isso ocorreu depois de o Estado de Minas revelar que a secretária da Educação Júlia Sant'Anna, e o secretário de Governo Cutódio Mattos haviam sido indicados para cargos pelos quais ganhariam respectivamente R$ 13,3 mil e R$ 8,3 mil. Na ocasião, o governador admitiu que vários secretários estariam em conselhos. A justificativa de Zema foi que os salários – que, no discurso de campanha, os secretários nem receberiam – era muito baixo para manter uma equipe de nível no estado e a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite dar reajustes dada a crise financeira de Minas.
Na campanha, Zema falou ainda no fim de 80% dos cargos comissionados no estado, mas o corte não chegou a 50% e o governador chegou pedir a criação de novas vagas na reforma administrativa que aprovou no Legislativo. No texto, outra emenda dos deputados que acabou barrada fazia reserva de vagas no estado para funcionários efetivos.
O governador também era contra a “mordomia” de voar em helicópteros e aviões, mas ainda em abril admitiu continuar usando a prerrogativa do cargo por ter reavaliado haver questões de segurança envolvidas e em razão da agenda intensa do Executivo. Até o vice Paulo Brant causou polêmica ao ser buscado de helicóptero em Nova Lima, com a mulher Aléxia, em um spa de luxo para ser levado a um compromisso do governo em Ouro Preto, na cerimônia de medalhas em 21 de abril.
Zema voou bastante, mas também foi de carro, a vários municípios mineiros, onde tem mantido encontro quase semanais com prefeitos e lideranças da política tradicional do interior. Nesses oito meses, também adotou postura semelhante a que tinha o ex-governador Fernando Pimentel em relação à imprensa, evitando entrevistas coletivas principalmente nos eventos em Belo Horizonte.
Nas redes Diferentemente dos outros, Zema tem apostado nas redes sociais para dar o seu recado. Nelas, o governador procura mostrar bastidores de sua rotina, como as corridas, os cafezinhos e até a alimentação por fast foods, durante viagens de trabalho. O governador também usou o canal direto para demarcar seu apoio à reforma da Previdência. Tema, que aliás, foi um dos motivos de viagens a Brasília para se articular junto a políticos para buscar recursos para Minas.
Na busca por aliados, até os senadores Antonio Anastasia (PSDB) e Rodrigo Pacheco (DEM), que concorreram na chapa adversária a ele, ajudaram a administração de Zema. O primeiro chegou a ser escalado para defender o estado em uma audiência sobre pacto federativo no Supremo Tribunal Federal e o segundo, que é potencial candidato ao governo em 2022, foi contemplado com a mais recente troca de secretariado, que alçou os democratas ao principal posto de articulação política da gestão.