No início daquela manhã de 7 de setembro do ano passado, o então candidato Jair Bolsonaro deixou a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, no interior mineiro, e embarcou no jatinho que o levaria a São Paulo. Do aeroporto na capital paulista, foi levado para o Hospital Albert Einstein. A quase 1.000km dali, em Brasília, o presidente Michel Temer participava do último desfile da Independência, se despedindo das solenidades públicas de forma um tanto melancólica. Passados 12 meses, Bolsonaro — ainda sentindo efeitos da facada da época da campanha e com nova cirurgia marcada para este domingo (8/9) — terá a sua primeira parada cívico-militar, com todos os adornos da comemoração, mas enfrentando um dos piores momentos orçamentários dos últimos anos para as Forças Armadas.
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Ministros cantam hino em vídeo do 7 de setembroFacada em Bolsonaro levou ao 'golpe da vaquinha'Planalto: Bolsonaro deve passar a Presidência a Mourão de domingo a quinta-feiraDesavenças entre Bolsonaro e Moro dividem aliados do governo no CongressoGrito dos Excluídos marca contraponto ao 7 de setembro, em BH Em discurso do 7 de setembro, Bolsonaro alfineta ex-presidentes e MacronSilvio Santos e Edir Macedo assistem a desfile de 7 de setembro ao lado de BolsonaroDesfile cívico-militar na Esplanada receberá 20 mil pessoasA pedido do Correio, a Associação Contas Abertas fez um levantamento detalhado nos principais programas do Ministério da Defesa. O resultado mostra uma redução drástica em projetos prioritários para os militares no orçamento de 2020. Ações como implantação e modernização de sistemas bélicos e equipamentos, e os chamados aprestamentos (preparação e treinamento para missões) do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ficaram sem nenhum centavo previsto para o próximo ano, o que pode inviabilizar projetos prioritários em andamento. “A política econômica está sufocando as Forças”, reclamou um oficial, que preferiu não se identificar, mas que assiste aos cortes num misto de preocupação e tentativa de preservação de programas. As dificuldades são tamanhas que afetaram até mesmo os turnos de trabalho das Forças, que foram reduzidos.
Integrantes do Planalto argumentam que os cortes ocorrem em todos os ministérios, não apenas no da Defesa.
Simbologia
Professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Arthur Trindade vê uma simbologia do tamanho de um porta-aviões o 7 de Setembro na gestão Bolsonaro. “O desfile é o evento central nas unidades militares, e muito claramente há um esforço para fazer um evento mais grandioso”, diz Trindade. “Bolsonaro, desde o início do governo, tem se abrigado em dois lugares: nos quartéis e nas igrejas, a partir do próprio histórico das agendas. E muito claramente ele se sente mais confortável na caserna.” Para um capitão reformado, que saiu do Exército inicialmente pela porta dos fundos, Bolsonaro abre um desfile como comandante em chefe das Forças Armadas. Não é pouca coisa.Números levantados pelo jornal O Globo, no início da semana, mostram que o governo vai gastar R$ 971,5 mil no desfile, um valor 15% maior em relação ao evento do ano passado na gestão de Michel Temer. “Os integrantes das Forças terão no desfile um aliado, um camarada de armas”, analisa Trindade. Os militares estarão no desfile e nos palanques. E não serão poucos nesse último caso.
Em resposta aos números apresentados pelo Correio, a pasta da Defesa considerou em nota: “O ministério, a exemplo de outros, teve redução de 42% no comparativo entre os orçamentos de 2019 e 2020. No entanto, o MD foi informado de que o governo ainda trabalha para fazer ajustes que permitam a recomposição das dotações do Ministério, de forma que não aconteçam impactos significativos nem no funcionamento nem em programas finalísticos”. A assessoria da pasta fez referências também a programas específicos questionados pelo jornal, mas que serão concluídos ainda neste ano, não fazendo sentido assim ter previsão orçamentária para 2020. Tais ações não foram citadas nesta reportagem.
Os maiores cortes
Confira os projetos que na previsão orçamentária de 2020 não devem receber recursos efetivos:
» Implantação e Modernização de Sistemas Bélicos e Equipamentos (- 100%)
» Aquisição de Aeronaves (-100.0%)
» Desenvolvimento de Míssil Nacional Antinavio (-100.0%)
» Modernização e Revitalização de Aeronaves e Sistemas Embarcados (-100.0%)
» Aprestamento da Aeronáutica (-100%)
» Logística Militar Terrestre (-100.0%)
» Aprestamento da Marinha (-100.0%)
» Aprestamento do Exército (-100.0%)
» Adequação, Revitalização e Modernização Aeronaves AM-X (-100.0%)
» Recomposição do Núcleo Naval — Construção das Corvetas da Classe Tamandaré (-96.0%)
Fonte: Contas Abertas