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Estado de Minas

Bolsonaro participa do primeiro desfile na Esplanada

Presidente com origem na caserna participa da parada cívico-militar que ocorre na manhã deste sábado (7/9). Cortes em investimentos deixam em xeque programas e treinamentos dos militares


postado em 07/09/2019 08:41 / atualizado em 07/09/2019 09:56

(foto: Marcelo Casall Jr./Agência Brasil )
(foto: Marcelo Casall Jr./Agência Brasil )

No início daquela manhã de 7 de setembro do ano passado, o então candidato Jair Bolsonaro deixou a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, no interior mineiro, e embarcou no jatinho que o levaria a São Paulo. Do aeroporto na capital paulista, foi levado para o Hospital Albert Einstein. A quase 1.000km dali, em Brasília, o presidente Michel Temer participava do último desfile da Independência, se despedindo das solenidades públicas de forma um tanto melancólica. Passados 12 meses, Bolsonaro — ainda sentindo efeitos da facada da época da campanha e com nova cirurgia marcada para este domingo (8/9) — terá a sua primeira parada cívico-militar, com todos os adornos da comemoração, mas enfrentando um dos piores momentos orçamentários dos últimos anos para as Forças Armadas.

A pedido do Correio, a Associação Contas Abertas fez um levantamento detalhado nos principais programas do Ministério da Defesa. O resultado mostra uma redução drástica em projetos prioritários para os militares no orçamento de 2020. Ações como implantação e modernização de sistemas bélicos e equipamentos, e os chamados aprestamentos (preparação e treinamento para missões) do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ficaram sem nenhum centavo previsto para o próximo ano, o que pode inviabilizar projetos prioritários em andamento. “A política econômica está sufocando as Forças”, reclamou um oficial, que preferiu não se identificar, mas que assiste aos cortes num misto de preocupação e tentativa de preservação de programas. As dificuldades são tamanhas que afetaram até mesmo os turnos de trabalho das Forças, que foram reduzidos.

Integrantes do Planalto argumentam que os cortes ocorrem em todos os ministérios, não apenas no da Defesa. De fato. Entre 2019 e 2020, a pasta responsável pela coordenação das Forças Armadas perderá 48,3% das despesas discricionárias — aquelas em que o governo tem liberdade para decidir e onde estão os investimentos. É uma das que mais perderam, mas, na divisão das carências, ainda se saiu melhor do que os ministérios de Minas e Energia, Turismo e Agricultura. A média dos cortes na Esplanada foi de pouco mais de 20%. Os gastos globais dos militares, incluindo pessoal, estouraram e bateram recordes em 2019, chegando a R$ 107 bilhões e, agora, para o ano que vem, devem chegar a R$ 68,6 bilhões, quase a metade. “O que está em jogo é um aperto no cinto, mas o presidente tem atenção com as Forças, até pela própria origem. E isso se refletirá no 7 de Setembro”, afirmou um integrante do alto escalão da Esplanada. Nas redes sociais dos militares, circulam mensagens de estímulo para se resgatar o “real valor do patriotismo” da parada cívico-militar.

Simbologia

Professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Arthur Trindade vê uma simbologia do tamanho de um porta-aviões o 7 de Setembro na gestão Bolsonaro. “O desfile é o evento central nas unidades militares, e muito claramente há um esforço para fazer um evento mais grandioso”, diz Trindade. “Bolsonaro, desde o início do governo, tem se abrigado em dois lugares: nos quartéis e nas igrejas, a partir do próprio histórico das agendas. E muito claramente ele se sente mais confortável na caserna.” Para um capitão reformado, que saiu do Exército inicialmente pela porta dos fundos, Bolsonaro abre um desfile como comandante em chefe das Forças Armadas. Não é pouca coisa.

Números levantados pelo jornal O Globo, no início da semana, mostram que o governo vai gastar R$ 971,5 mil no desfile, um valor 15% maior em relação ao evento do ano passado na gestão de Michel Temer. “Os integrantes das Forças terão no desfile um aliado, um camarada de armas”, analisa Trindade. Os militares estarão no desfile e nos palanques. E não serão poucos nesse último caso. Apenas no primeiro escalão há nove nomes que chegaram a oficiais, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão, um número maior do que governos militares e civis ao longo da história brasileira. Ao todo, cerca de 1.200 militares estão cedidos ao Executivo neste momento, um aumento efetivo em relação a gestões anteriores. “Será um desfile mais militar do que cívico”, frisa Trindade.

Em resposta aos números apresentados pelo Correio, a pasta da Defesa considerou em nota: “O ministério, a exemplo de outros, teve redução de 42% no comparativo entre os orçamentos de 2019 e 2020. No entanto, o MD foi informado de que o governo ainda trabalha para fazer ajustes que permitam a recomposição das dotações do Ministério, de forma que não aconteçam impactos significativos nem no funcionamento nem em programas finalísticos”. A assessoria da pasta fez referências também a programas específicos questionados pelo jornal, mas que serão concluídos ainda neste ano, não fazendo sentido assim ter previsão orçamentária para 2020. Tais ações não foram citadas nesta reportagem.

Os maiores cortes

Confira os projetos que na previsão orçamentária de 2020 não devem receber recursos efetivos:

 

» Implantação e Modernização de Sistemas Bélicos e Equipamentos (- 100%)
» Aquisição de Aeronaves (-100.0%)
» Desenvolvimento de Míssil Nacional Antinavio (-100.0%)
» Modernização e Revitalização de Aeronaves e Sistemas Embarcados (-100.0%)
» Aprestamento da Aeronáutica (-100%)
» Logística Militar Terrestre (-100.0%)
» Aprestamento da Marinha (-100.0%)
» Aprestamento do Exército (-100.0%)
» Adequação, Revitalização e Modernização Aeronaves AM-X (-100.0%)
» Recomposição do Núcleo Naval — Construção das Corvetas da Classe Tamandaré (-96.0%)


Fonte: Contas Abertas


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