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O presidente defenderá ainda a democracia e as instituições, tema em que ele deve alfinetar o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e procurar desmistificar a imagem de um governo autoritário e não-democrático que algumas nações possam ter. Nessa toada, ele reforçará os feitos que o governo, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) têm feito pelo país, como a aprovação da reforma da Previdência. O aceno tem por objetivo mostrar os esforços brasileiros para a retomada econômica, em sinalização à busca por investimentos estrangeiros.
O aceno em busca dos recursos estrangeiros será feito na dose certa, mas é certo que a ideia ufanista de defesa à soberania brasileira na Amazônia estará no centro das atenções. E Bolsonaro fará isso com um viés protecionista, mas mais simbólico do que comercial. Em entrevista publicada ontem pelo EM, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, deu o tom do que pode esperar do discurso. “Eu acho que o recado número um (será de que) a Amazônia é nossa. Isso aí não podemos admitir em hipótese alguma essa questão de soberania limitada ou uma ingerência além daquilo que os tratados internacionais, ao qual o Brasil subscreve, prevê. Então essa é uma. O segundo recado: ela é nossa e compete a nós protegê-la e preservá-la. Acho que são as duas mensagens que ele (Bolsonaro) tem que integrar”, destaca.
Riscos
A ênfase à Amazônia é destacada pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, Augusto Heleno. Para ele, é positivo que o mundo esteja observando o Brasil no momento do discurso. “As informações sobre a Amazônia, na maioria do mundo, são tão precárias, são tão ingênuas, são tão desprovidas de conteúdo, que é ótimo que se voltem para o Brasil, que voltem os olhos para o que é a Amazônia e o que representa a Amazônia para o Brasil. Primeira coisa tem que deixar muito claro que não tem esse negócio de que a Amazônia é o patrimônio da humanidade”, comentou, em entrevista à Rede Vida.
O Itamaraty monitora o risco de boicote ao discurso de Bolsonaro, mas não demonstra preocupação. À reportagem, comunicou que os movimentos serão ignorados. Internamente, no entanto, o Ministério das Relações Exteriores está dividido. O gabinete do chanceler, Ernesto Araújo, acompanha de forma mais pragmática as ameaças. Núcleos não tão próximos, entretanto, veem com preocupação a possibilidade de boicote a produtos brasileiros por parte de consumidores e empresas internacionais, como retaliações à importação de couro brasileiro.
Os boicotes não devem trazer tanto impacto prático, mas mostrarão uma mudança mais radical à imagem multilateralista que o Brasil transmitia até 2018, pondera o analista político Ricardo Mendes, sócio-diretor da Prospectiva. “Não acredito em uma repercussão muito grande, mas, de qualquer forma, devemos ver alguma mobilização. Será um discurso relativamente curto, onde tentará ressaltar coisas sendo feitas e a agenda positiva e aberta a negócios”, pondera.
O cientista político Lucas Fernandes, analista político da BMJ Consultores, concorda com a previsão. “O risco não é tão elevado. França, Irlanda e Luxemburgo devem se retirar, mas não acho que será um movimento acompanhado por delegações de outras grandes lideranças mundiais. Não será algo visto em grandes proporções”, avalia.
Retomada no exterior
A ida do presidente Bolsonaro a Nova York será a retomada da agenda externa brasileira. Estão previstas viagens do chefe do Executivo federal para Japão, China, Emirados Árabes e Arábia Saudita. E, em novembro, o Brasil sediará a cúpula do Brics, bloco formado com a participação da Rússia, Índia, China e África do Sul.
A presença de Bolsonaro no Japão ainda está sob avaliação do Itamaraty. A reportagem apurou que o gabinete de Ernesto Araújo, ainda avalia a ida de Bolsonaro à coroação do imperador japonês, Naruhito. Como foi à cúpula do G-20, em Osaka, onde tratou acordos comerciais com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, a ida ao país pode ser postergada. Entretanto, avaliam também que seria uma boa possibilidade para Bolsonaro, presidente pro-tempore do Mercosul, negociar o acordo entre o bloco e o Japão.
As viagens à Ásia terão como objetivo abrir portas e emplacar outros setores não tão bem aproveitados. O Brasil mostrará que cumpre os padrões de qualidade exigidos pelos parceiros comerciais. A visita à China é uma das mais esperadas. Depois de um início de relação desgastada, com algumas desavenças em razão da proximidade sinalizada pelo governo brasileiro com os EUA, Bolsonaro terá a oportunidade de aprimorar o relacionamento com o principal parceiro comercial do país. (Colaborou Ingrid Soares)
Bate-papo com a filha e visita de Moro
Por força da tradição
radicionalmente, o discurso de um presidente da República brasileiro abre a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Desde então, o chefe de Estado brasileiro sempre inaugura a Assembleia Geral, em reconhecimento ao papel desempenhado por Aranha. A fala do presidente brasileiro é sucedida pelo discurso do presidente dos Estados Unidos. Ao todo, 193 estados-membros compõem a Assembleia Geral. A ordem de pronunciamento dos demais chefes de Estado, tradicionalmente, é baseada em alguns critérios, como nível de representação e preferência.